A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO E OS CORAÇÕES ENTEDIADOS.
A insatisfação momentânea da espera reage no organismo como um mistura química que resulta na descoberta da essência quilométrica da própria espera.
Um coração tardio é o berço do amor que não suporta a espera, entediado e pulsante, agonizando no cansaço de esperar, vibrando no olhar vermelho da hemorragia dos olhos que se viram para o passado, espantados com os planos de um futuro trilhados não pelas vontades, mas pela carência de corações entediados, perfurando as visões com a afiada faca de uma solidão que corta as esperanças, sufocadas nas brasas de um melancólico sol tardio no outono indeciso que demora a chegar.
A visão sufocante da dor, esta em cartaz nas telas curiosas que espalham as mentiras pelo ar poluído de palavras indigestas, vomitadas pela insatisfação em si mesmo daqueles que norteiam o limite dos que caminham ao seu lado. O amor em si, significa uma arte expressada pelo tempo e pelos adornos, carregada como um totem, simbolizando uma passagem que só acontece aos passos observados. O limite indefinível do tempo socorre os desejos através das lágrimas e a multidão aplaude com sorrisos a montagem romântica de um dia fugidio de solidão.
O amor não edifica a si próprio e nem restabelece a paz de um Eu em desencanto, pelo contrário, ele desfila com as mãos dadas e pensamentos seprados, nutrindo no outro o sentimento que se quer passar, materializando a necessidade e transformando o coração apenas em uma imagem, observada, aplaudida e açoitada.
Quantos beijos já foram esquecidos, e quantas noites não se pode esquecer? Essa pergunta estabelece um paralelo entre o que se tem e o que se quer ter, marcando com desprezo ou apagando com saudade o momento refletido na relação de agora, transpondo para o próximo (a), a imensidão de dúvidas que mastigam nossos dias e digerem o amanhecer de noites de arrependimento.
O romântico está obscurecido pelo cataclismo de cobranças silenciosas de nossos próprios corações, o Eu se afunda em lagos intoxicados pelo medo e turva e contaminada, essa água não pode ser vista, nos afogamos criamos as últimas visões com aquilo que a mente pode nos dar e definimos quem poderemos amar.
O coração fatigado pelo desprezo encontra uma saída no próprio desprezo que faz a si mesmo, enjaulando sua beleza em braços que manipulam os sentimentos como um cigarro que vai se apagando até só restar fumaça diluída em poluição cancerígena e o sentimento assume seu valor mais vil nas lágrimas que ninguém pode ver.
A sociedade do espetáculo e os corações entediados são o próprio espetáculo que o vazio do EU insiste em preencher com imagens insensíveis a própria realidade estabelecida em um momento de introspecção, onde se observa a necessidade de outro para abrandar aquilo que você mesmo não consegue suportar, VOCÊ.