A gente “se vê” na TV?
Há quem se constranja e até esconda que gosta de assistir televisão. Certamente há muitos programas que justificam esse pudor, como também há várias formas de encará-los, isso irá depender do senso crítico que se tenha ao assisti-los ou do prazer que se possa ter com opções menos populares. A experiência de se apreciar (no sentido de verificar, dar pesos) a algum trabalho pode ser tão frustrante quanto ao se ler um livro, ser parte da platéia de algum espetáculo ao vivo ou se ver a um filme, se não tivermos referências outras que nos capacite categorizar os aspectos (contextos, motivações, costumes...) da obra a que nos propomos conhecer. Evidentemente deve-se considerar que o grau de exigência de um leitor de bons livros não deveria ser o mesmo para quando eventualmente veja TV. Para exemplificar, eu, que gosto de ver noticiários, me irrito um pouco com a supervalorização de noticias e até reportagens como as sobre o casamento dos jovens nobres ingleses. Curto e grosso? É um saco! Mudo de canal na hora! Parece propaganda do filme “Crepúsculo”, a obra-pop teen que entupiu os cinemas. Na verdade os tons passionais ou oportunistas (muitas vezes editoriais contaminados por interesses) em que as matérias são apresentadas direta ou veladamente é que precisam ser acompanhadas para se saber há quantas anda as tendências impostas ao telespectador. Confesso que a desconfiança é a minha arma preferida e que isso, de certa forma, me acompanha junto à aparentemente passiva postura no sofá, não obstante, é certo que não escapo ileso a hábitos do telespectador padrão na impaciência com o controle remoto. Como o inverossímil vive a atuar na realidade nos surpreendendo mais do que as mais estapafúrdias ousadias ficcionais, não encaro as “viagens” dos seus criadores com o preconceito que cerca obras aparentemente absurdas. A forma de realizá-las tem sido mais importante.