RUMOS
Quando está se terminando um casamento de anos a fio sustentado sabe-se lá porque cargas d’água, é hora procurar culpados. As partes tendem a se eximir das responsabilidades num primeiro momento, aquele da crise mais efervescente, na hora em que “o bicho tá pegando”. A sogra ou sogro, a rotina, o egoísmo, dinheiro e, não raro, um outro interesse amoroso que mesmo não havendo as vias físicas de fato, a traição propriamente, são, entre tantos, os motivos e as desculpas. Esfarrapadas ou não, costuma-se não terminar bem. Até que, após o incêndio, o mar de lama ou outros desdobramentos menos catastróficos, as reflexões acontecem, isentas ou maduras, depois de cada um ter tomado seu rumo, se sobreviveram ilesos fisicamente, moralmente e emocionalmente.
A história oficial da humanidade é meio assim também. O que está acontecendo agora em alguns países do oriente médio (Iraque, Líbia, Egito, Tunísia, Bahrein...) é um pouco resultado de anos e anos de aventuras européias (e depois americanas), de tira-e-põe de reis e ditadores no poder em função desse ou daquele interesse. Claro que há uma culpa interna de cada país agora, afinal ninguém suporta opressão por tanto tempo. O que não se aceita é a imputação de responsabilidades nesses casamentos que estão ruindo com o tempo. Tentou-se garantir uma paz duradoura por meios esquisitos lá atrás ou tentou-se garantir uma fonte de fornecimento de víveres e matérias primas para o mundo rico sem influências de regimes fundamentalistas, mas fez-se isso com regimes de força bruta implantados, que agora se desmancham ante anseio popular inquestionável do ponto de vista dos direitos democráticos. De quem é a culpa, a história oficial só vai registrar de forma sensata daqui a muito tempo, quando os escombros já não mais incomodarem o stablishment.