A PÁSCOA DO OUTRO

Evito escrever sobre a Páscoa, porque me culpo e culpo a quase todos pela inobservância da representatividade da Páscoa. Tanto se discute, reclama-se sobre a perda de valores da família, da educação, dos princípios mais humanos do bem viver, sobre o cultuar das tradições e a preservação de princípios do reconhecimento dos erros e dos pecados que cometemos, seja individual ou coletivamente.

Tanto se versa e tanto de discursa sobre os erros coletivos, comunitários, da sociedade como um todo e tão pouco falamos, discorremos sobre os próprios erros. Os erros sempre são do outro, dos outros, do coletivo e assim vamo-nos isentando dos próprios.

Sem entrar no mérito religioso, da crença e da fé cristã, pois, tantos cultuam outras religiões, mas a cada tempo que passa, vamos passando sorrateiramente pela margem das tradições, que entendo como oportunidade de sermos parte de um contexto, de uma cultura, de hábitos coletivos, única forma de nos mantermos unidos, mesmo separadamente, em torno do social. Mas não, vivemos na esperteza da preguiça, na isenção do esforço individual, da iniciativa pessoal, vamos assassinando os rituais e com isso aniquilando as coisas que nos une. Assim vem sendo com a Páscoa.

Quem, com um pouco mais de idade, não lembra saudoso, de todo o ritual da semana Santa? Quem não sente saudade e ainda saudosamente valoriza todo o ritual da limpeza da alma, da lavagem dos pecados, da penitência individual pelo tudo que se fez de errado, tendo na morte e na ressurreição de Cristo um motivo para nos arrependermos, para admitirmos nossos pecados, que fosse uma só vez no ano?

Mas não mantemos o ritual. Um deixa de fazer, deixando conta do outro que não faz ou simplesmente esperando que todos os outros façam e ele só não vai fazer diferença. Mas é que cada um vai pensando assim e por conseqüência o todo deixa de fazer e as coisas vão se esvaindo.

Da páscoa, só vimos sobreviver o lado mercantilista. Os ovos de chocolates sendo comprados e presenteados, simplesmente.

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 24/04/2011
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