O país do futebol
estava lendo meu jornal,numa tarde quente de inverno, nem bem na sombra nem no sol. Foi num desses dias, em que fica dífícil saber a estaçao em que se está, quando outro menino de cor, apareceu subitamente diante de mim, fazendo ainda mais sombra....ele dizia, atônito....senhô. tum brigando. Tão quebrando tudo. O senhô qué vê?. Minha curiosidade relacionada a problemas de desordem social, já estava no limite....mas aceitei. O menino saiu correndo e eu bati a poeira da bunda, levantando lentamente meu corpo cansado do meu tradicional banquinho de praça, dessa vez vermelho.E fui andando em direção ao movimento dos pedestres, que pareciam estarem fugindo do apocalipse.
A avenida era larga, mas tanta gente se espremia no frenesi da fuga, que parecia uma daquelas festas idiotas em que uma multidão tida como racional, foge de touros tidos como animais. Mas,t udo bem.
Os dois lados da rua eram alvo de quebra quebra. O país do futebol, recebendo de braços abertos a alegoria dos torcedores injustiçados pela derrota. As camisas eram coloridas, nem vale a pena falar dos times,pois seria demagogia dar nomes aos bois.
Fiquei parado,junto a um poste de cimento, como voluntário a não fazer nada, apenas olhar a baderna.
Jovens, a esperança do futuro desse país, corriam com pedaços de pau, que um dia foi Brasil, pra surrar seu oponente, tão porco como ele mesmo. Tapas e pontapés se misturavam as palavras de baixo calão, ditas numa gíria incompreensível de um povo que se diz ter cultura. Terceiro tempo do jogo, terceiro mundo. E o pau comia solto, pena nao estarem no coliseu.
O ano da copa do mundo; que bacana. Rio 2014. E eu fiquei pensando na magnitude desse evento. Decerto esses jovens mostrarão ao mundo como se faz um país, com o futebol da ruas.....
Aí vem a polícia. Cheia de gás, com soldados armados com a conivência, e medo de bater. Pode dar sindicância, como os sindicatos dos policiais aposentados ainda procuram seus direitos na justiça.... Prender esses infratores? ..bem,isso é assunto pra dar pano aos programas melosos aonde as Márcias se acham no direito de zelar pela integridade dos menores infratores.... problemas da sociedade, libido...pura merda.
Vitrines são saqueadas, portas arrombadas, carros depredados, tudo em nome da euforia e do inconformismo com a derrota...mas o país é do futebol. Há..ainda temos o carnaval, pra dar um toque especial no movimento social.
Alguns apanham da pólícia, outros batem nela. .A correiria aumenta, porque chegam os jornalistas, sensacionalistas achando tudo normal, culpa do estado....... do antigo regime militar, que travou combates com esse tipo de coisa, e era chamado de censura... que coisa.
Bem, estamos numa democracia, um ex-metalúrgico se elegeu presidente e seus ministros ex-exilados, nada tiveram à ver com o passado, apenas fizeram oposiçao, como esses jovens, que serão um dia, como eles....
Não era de dar pena, faltava só o Datena.
E eles filmaram tudo, foi noticia na Band, toda a bandidagem. Os programas de entrevistas, aproveitaram novamente o episódio pra debater o assunto, numa mesa redonda com água mineral, aonde se sentaram psicólogos, viadinhos metidos a defensores dos excluídos e os caras dos direitos humanos, que nao tem o que fazer. Tudo bem, isso dá ibop, e as pessoas da terra do futebol, gostam de saber dessas coisas.
Copa do mundo, futebol arte. Uma cultura e tanto. E o pau continuava a comer solto.
Aí apareceu o menino de cor, e sentou na calçada à minha frente, chupando picolé de manga, bem tranquilo,,,,
Vão morrê uns déiz. Olhei seu cabelo, era como molas de isqueiro. Tadinho, ...perguntei a ele se tava na aula,...
Ele disse que nem sabia ler, que estava trabalhando,...soltando pipas e foguetes, nos morros..... trabalho informal...
Morros, samba, futebol.... eita festa democrática....um país e tanto. Um povo e tanto.
Então algo fantástico novamente aconteceu......Pelé apareceu em carro aberto, daqueles do corpo de bombeiros.... falava com auto-falante pra todo mundo ouvir.....as crianças são o futuro do Brasil. E todos pararam. O tempo parou, apenas ele, Pelé, continuava a se movimentar. E eu pensei de novo.....isso daria um bom conto...
Mas, como nao gosto de futebol, apenas sorri ao menino pretinho, que enrolava seu cigarrinho de maconha, pra mostrar que estamos no país do futebol.
Max