O velho truque do susto inesperado...

Apresentei a minha prima um desses filmes de terror que nos provocam mais alergia (por causa da poeira) que gritos, quando ela reclamou do começo muito parado. O filme em questão era "Expresso do Horror", onde uma criatura é achada congelada na Sibéria por um cientista que pretende levá-la para Londres, mas o bicho acorda no caminho e aí já viu, né.

Minha prima estava bocejando e reclamando do filme. Eu, tentando justificar porque esse filme me dava tanto medo quando novo, respondi que todo filme de terror começa assim paradão para depois se tornar medo puro. Bem, nem todo filme de terror começa assim; mesmo sendo um gênero com poucas inovações, o terror não se tornou tão óbvio assim ainda. O que achei interessante, depois de reavaliar a minha resposta, é que de certa maneira o suspense, mais que o terror, utiliza o contraste entre o que é inocente com algo totalmente assustador quase sempre.

Tudo bem, o filme tem que começar apresentando os personagens e o lugar, isso é de práxis, mas existe sempre aquele intervalo de calmaria antes do ataque. Podemos entender como intervalo estratégico também as cenas, iniciais ou não, quando parece que estamos diante de algo corriqueiro e sem graça e, do nada, surge um monstro ou um corpo. Isso é a premissa fundamental do suspense: quebrar a tranquilidade, ser inesperado.

No entanto, o maior problema do gênero hoje é que esse fator inesperado está mais do que "manjado". Sabemos que nas cenas despretensiosas existem sustos embutidos (a falta de criatividade é tanta que o caráter dessas cenas continua quase sempre o mesmo: uma família tentando se divertir ou um grupo de adolescentes querendo fazer algo"imoral" é a deixa favorita para os roteiristas).

Por isso, acho interessante como alguns diretores e roteiristas conseguem reaproveitar o suspense e o terror por outras vias. Tarantino, por exemplo, consegue isso nos diálogos. Uma regra básica do suspense, baseada no medo do desconhecido, foi perdida hoje, onde tudo deve ser escancarado. Por isso, também acho interessante como M. Night Salamayn usou esse recurso em A Vila (ao não mostrar direito os monstros) e no Sexto Sentido (se apoiando nos sussurros e em relances dos fantasmas).

Gostaria de fechar esse texto dizendo que não sou um fã desses dois gêneros, na verdade. Eu sou um cinéfilo, mas um cinéfilo preguiçoso, daqueles que vez ou outra vão aos cinemas (por questões financeiras, pessoal) e esperam algum filme passar na televisão para saciarem sua sede de filmes. Vejo filmes de suspense e terror raramente, mas sou bom de memória. Minhas considerações aqui, portanto, não tem peso de uma "crítica cinematográfica bem fundamentada", são apenas considerações. Bem, agora vou-me indo; tenho que convencer minha prima á ver o resto do filme...