Crônica de Páscoa.
Não era comum pra ela, não, pra ela não era comum. Mas decidiu-se, surpreendendo a si mesma, iria comprar o bombom. Não que gostasse de chocolate, mas gostava do formato, do tamanho, da novidade comercial. Era a última peça, sentiu-se de certo modo importante por tê-la em sua cesta de compras, junto aos outros itens comuns, diários, velhos. Caminhou lentamente em direção ao caixa, o andar orgulhoso por ter o bombom gigante, o último. Não preocupou-se em escolher a fila menor desta vez, não se importava de segurar sua cesta por mais tempo e sua vez chegaria depois de 6 pessoas. Foi tempo suficiente pra que ela se cobrasse a normalidade, sentiu-se patética, aquele bom bom enorme, sabia que ninguém comeria aquilo com a alegria de que o produto era digno. Por um momento pensou que não era digna de leva-lo, de levar o último, e voltou, apressada devolveu o chocolate ao mesmo lugar que o havia contemplado. Apressou-se, procurou a fila mais curta e passou seus ovos, seu leite, sua farinha e seu pão.
Mas não saiu do mercado como saía das outras vezes. Sentiu-se incomodada, distraída, talvez deveria ter levado o presente a si mesma, não encontrava, agora, nenhum problema em deixa-lo guardado, ou comê-lo, apenas comê-lo. Não importava.
Voltou. Pisava firme, determinada dirigiu-se a sessão de chocolates e com a mesma velocidade com que foi, parou. Não estava mais lá. O bom bom gigante já havia sido contemplado por algém menos responsável. Entristeseu-se. Agora queria o bombom. Agora não o teria.
Para não perder a viagem resolveu comprar mais açucar. Já havia açucar o suficiente em sua casa, mas não queria que alguem percebesse que não econtrou o que voltara para buscar. Olhou pra uma mulher no caixa ao lado enquanto sua vez não chegava. Reparou na cor do seu cabelo, era uma cor diferente, era uma cor bonita, imaginou-se com aquela cor de cabelo olhando fixamente para mulher, até que o barulho de uma garrafa chamou-a atenção. Reparou então nas suas compras: maças vermelhas, uma garrafa de wisky, velas e o seu bombom gigante.