Beijei a Cruz e agora?

BEIJEI A CRUZ, E AGORA?

Será que voltei diferente após esse beijo...?

Beijei a cruz. Isso implica em mudança de minha vida?

Isso significa que terei que mudar de rota? Beijei Jesus... Será que agora firmarei união com seus projetos? E agora, o que farei?

Entrei na fila rumo ao sagrado. O coração estava por demais ocupado com constrangimento e emoção. Fui me aproximando da cruz, constrangida por não saber amar ainda como ele. Certa vergonha interior... Antes de seguir, fiquei refletindo como fugimos do verdadeiro amor, aquele amor que acolhe verdadeiramente o outro...

Uma tristeza pelo atraso de amar, pelas dúvidas e pela falta da caridade assombrosa que me falta. Talvez, por isso, evitei olhar profundamente para ela, a cruz e, mais especificamente, olhar em seus olhos.

E se ele me cobrar amor igual? Pensei!

Bom, Fátima é só uma cruz..., mas pensando bem, não é qualquer cruz...Até a história tem um antes e depois dessa cruz...

Simbologia forte. Retornei pra casa com esse símbolo na cabeça.

Fui devagarinho me aproximando da fila; é certo que tremendo um pouco, afinal ir ao encontro de uma majestade não é fácil, mesmo quando ele está chagado, sofrendo num madeiro. Que rei diferente! Não é muito bonito de ver. O seu amor porém, nossa, transcende qualquer beleza...

Mesmo assim quis ir ao seu encontro para agradecer, para pedir perdão. Desejei até chorar mais. Um súdito sempre chora a morte de um rei bom, que amou seu povo, concorda?

Meu rei estava diferente dos demais...como pode isso? Chagado numa cruz sem pompa alguma...

Um rei diferente..., até lava os pés dos seus servos. Sua partida deve ter deixado muitas saudades.

Olhando pra cruz percebi que, seu único brilho era seu valioso e único amor...Então, precisava me dirigir ao amor. Deixar-me contagiar por ele, mas parei novamente interrompida por meus pensamentos e meditei: De que valeria rememorar esse sofrimento dele por nós? Sua via sacra, sua sacra vida...queria me concentrar na ressurreição. Pra que o memorial da cruz...? Passados alguns instantes raciocinei que, não poderia ver apenas uma planta, seja ela exuberante ou não, sem recordar a morte da semente. É Fátima! Não há como fragmentar essa história, por mais que você deseje é preciso contá-la realmente em todas as suas fases.

O sol começou a cair. Recordo que ele silenciou, tombou da cruz..

Quanto a mim e a humanidade parece-me que precisamos ainda tombar, inclinar o rosto, humilhar-se, cair por terra de tanto egoísmo e vaidade...

Por outro lado o tombo dele me elevou. Gente que história fascinante! Nossa que grande amigo hein? Um verdadeiro rei age assim: se preocupa com seus súditos. Beijei a cruz, e agora? O que irei fazer...?

Ele fez bem em nos pedir isso em sua memória. Somos tão esquecidos e vaidosos, não é mesmo? Esquecemos muitas vezes aqueles que nos amam, aqueles que convivem conosco, aqueles que nos dedicam afetos, quanto mais ele que não vimos...não fui a ceia com ele, não estava na casa de Marta, não conversei com os cegos ou aleijados que ele curou, muito menos fui ao templo ouvi-lo ou naveguei por mares bravios ao seu lado...

Beijei a cruz como querendo dizer sim a ele. E agora? Ficarei com esse encontro só para mim ou anunciarei para o meu próximo? Direi ao outro que ele se foi temporariamente, mas logo ressuscitou, e, portanto não choremos mais? O que fazer...?

Fugir da cruz é fácil e beijá-la implica coragem. Sempre achei que Libertação é aquisição nobre. Alívio. Se ele nos libertou então festejemos! Irei ao seu encontro, afinal, os grilhões foram desamarrados.

- Será?? Ai meu Deus, que conflito... E os grilhões das guerras, da fome, da falta de partilha? Um irmão machucando o outro? Às vezes imagino-o assistindo a tudo do seu trono real; admirado com nossa dificuldade em aprender e obedecer...

Tenho dúvidas se seria eu tão paciente... Sinceramente como é que uma lição é repetida tantas vezes de geração a geração e a maioria não aprende. A sensação é que o dever de casa está ainda por fazer...inclusive o meu. Caramba!! Então estamos muito mal dos ouvidos e, principalmente mal do coração. Que rei paciente meu Deus! Apontou o caminho e ainda resolvi trilhar por outra estrada. Dessa vez, prometo, ficarei mais vigilante. Ele deve passar por perto em algum momento e então gritarei: - Senhor, por favor, é aqui que devo seguir ao seu encontro?

Ele possivelmente responderá:

- Por que demorou tanto para encontrar minha estrada? Nem precisava esperar por mim, tanto tempo, pois era só trabalhar a favor do seu próximo que já estarias comigo. Não perca mais tempo! Venha e siga-me! Deixe de tantas perguntas, de tanto trololó e, mãos à obra.

Ouviram que bronca bem dada? Acho é bom...

FELIZ PÁSCOA!!

Patos, 22de abril de 2011.

23:00hs

Fátima Arar
Enviado por Fátima Arar em 23/04/2011
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