Niverinho
Devo ter começado algum outro texto com um "caralho" seguido de reticências, só pra dar melhor vazão às lamúrias vindouras; queria usar esse mesmo recurso agora - já que não me ocorre uma idéia melhor -, mas vai ficar repetitivo...
Hoje é o dia do meu aniversário e sei lá, eu costumava gostar de tal data, ao contrário da maioria das pessoas que a detestam enquanto amam todos os outros dias bestas. Por que estou falando dos outros, afinal?
Porra de dia do caralho, vida de merda dos infernos... Meu mau humor está tão corrosivo, cara...
Não costumo me propor a fazer muita coisa e ontem acordei cedo e comecei a trabalhar na edição do meu livro. Achei um áudio maneiro que ensina como diagramar e tudo o mais. Deu um baita trabalho escolher os textos. Quer dizer, nem tanto. Não pensei muito na hora de escolher. De tanto pensar nos textos mais bacanas, de tentar achar os mais bacanas, eu acabo achando todos medíocres e dignos de uma gaveta num quarto abandonado na casa da minha vó...
Tive de fazer a coisa toda no computador do meu irmão, que fica na sala, já que o meu não tem o Word. "Por que não tem?" - Porque eu deletei o Pacote Office. Bem, ajeitei o alinhamento dos parágrafos, tamanho da letra, tipo da letra, etc. Tudo isso com o telefone tocando de cinco em cinco minutos com os funcionários da minha mãe dos dois empregos dela ligando e enchendo o saco. Não sei como ela agüenta em pleno dia de folga ficar acordando pra socorrer uma cambada de incompetentes. Enfim.
Aí uma pseudoprima que eu tenho resolveu visitar a minha mãe, trazendo suas duas crias e uma irmã mais nova. Aí somou meu irmão que já gosta de baderna e eles começaram a correr e a gritar na sala, sabe? E eu tentando achar uma maneira do livro ficar bem distribuído e etc. Pararam de correr e enfileiraram as cadeiras ao lado da minha pra jogar videogame. Que desgraça... um dos filhos dela é uma criança chata pra cacete, comunicativa e birrenta, que parece ter amplificador nas cordas vocais e pulga no cu, o filho da putinha barulhento do caralho.
A muito contragosto, acabei deixando a coisa pra fazer durante a madrugada. Odeio passar a madrugada em claro quando estou empregado, mesmo em feriados prolongados... Desajusta toda a minha semana e meu humor, bem, vai pra bosta.
Minha mãe resolveu ir trabalhar do nada e o meu irmão mais novo foi dormir na casa da prima dele. O outro estava na rua. A casa ficou vazia.
Lá pelas onze da noite - depois de contar as moedas - eu liguei pra pizzaria. Morrendo de fome. É engraçadíssimo como a pizza nessa favela do cacete é quase tão mais cara do que a pizza em bairros bacanas da Zona Sul, por exemplo. Passou meia hora ela chegou, junto com a minha mãe, que acabou não precisando ficar no trabalho. Peguei um pedaço e fui pro meu computador, no quarto, comer e ver algum vídeo. Mal acabei de comer o primeiro pedaço minha mãe estendeu umas notas pra mim com cara de cachorro que caiu da mudança.
"O que foi? Que dinheiro é esse?"
"Os meninos comeram tudo... pede outra"
"Que meninos!?"
"Seu irmão e o amigo dele..."
Meu irmão resolveu trazer um amigo dele pra dormir em casa. Dormir, não, passar a noite, jogando aquelas viadagens de RPG no computador. Isso aconteceu tem umas duas semanas e eu escrevi em alguma crônica aí. Resolvi não ser ranzinza e resmunga - apesar da vontade de amordaçar os dois, jogar gasolina e atear fogo - mesmo depois do episódio da pizza e fui dormir pouco depois da meia noite, disposto a acordar cedo e acrescentar mais um conto, enumerar as páginas, fazer um índice bacana, e sair à tarde pra fotografar a capa. Eu deitei e cinco minutos depois meu irmão subiu na beliche dele, precisando de um banho. Virei pro lado e resmunguei "desgraça do caralho". Acabei dormindo. Acordei no meio da madrugada pra ir ao banheiro e lá estava o amigo do meu irmão, sozinho, jogando as viadagens enquanto o anfitrião fedorento dormia pesado na parte de cima do beliche. Dei um passo à frente, pronto pra abrir a porta e convidá-lo a se retirar ou ir procurar uma lan house mas acabei desistindo.
Acordei com o despertador do celular às nove da manhã. Dormi com o computador ligado, deixando Death in Vegas e Massive Attack rolando e acordar ao som de Help Yourself pede uma roncadinha a mais. Nove e meia levantei, escovei os dentes e discuti um pouco com a minha mãe enquanto ajeitava o café da manhã. Nada de anormal, somente o fato da mesa estar num canto num dia, a geladeira num outro canto no outro, os copos num armário que fica na sala num dia e no outro (e assim sucessivamente).
O filho da puta intruso ainda jogando coisas no computador do meu irmão.
A hora passou rápido e acabei não fazendo nada até as onze e meia. Coloquei um tênis e fui comprar batatas. Meu quarto faz um frio do cacete e não dá pra perceber como está a temperatura do lado de fora. Indo comprar as batatas, acabei ficando com preguiça extrema de sair pra tirar as fotografias. Odeio calor. Odeio mesmo, muito mesmo.
Engraçado que indo até lá encontrei com uma vizinha que desde que eu me conheço por gente é uma delícia de tão gostosuda. Já teve filho e os caralhos e continua uma beldade; morena dos cabelos cacheados com marcas de biquini; baixinha do quadril largo e da bunda grande e das pernas grossas. Ai, mãezinha!
Deixei as batatas na mesa e dei uns vinte e cinco chiliques porque ninguém nunca joga nada fora na porra da casa e resolveram jogar justamente a garrafa de dois litros da Coca Cola retornável. Acabei achando a garrafa embaixo da minha cama...
Na mercearia estava lá, minha vizinha, que é tão rara de ver quanto um eclipse, pela segunda vez. Tive que bater no meu próprio rosto pra parar de pensar besteiras.
Aí, quando eu voltei com a garrafa sob o braço, todo alegre - já que havia encontrado meu irmão e o amigo dele no meio do caminho - e empolgado com a continuação da edição do livro, bem, haviam montado uma piscina e todas as crianças do dia anterior estavam dentro dela, seminuas, eufóricas, barulhentas, jogando água pra tudo quanto é lado.
Fizeram um coro de "feliz aniversário" e eu fiquei sem graça e pensei em amá-los todos só um pouquinho.
Só que aí, vendo que eu não conseguia me concentrar na porra do Word procurando onde diabos de lugar dava pra enumerar as páginas, acabei desistindo de esse pouquinho de amor e quis jogar uma torradeira ligada na piscina, sabe?
Difícil, mano... Difícil mesmo. Ocorreu-me que o fato de não ter pai não é ruim porque e eu não sou obrigado a conviver com a família dele, manja? Essa veia misantrópica vem da linhagem dos Abreu; a família da minha mãe não suporta barulho e nem reuniões. Conviver com essa cambadinha que é parente dos meus irmãos é deprimente pra caralho, dá vontade de alugar um apartamento na Cracolândia e viver lá com os nóias, ladrões, putas, viciados, mendigos, bêbados, estupradores, estelionatários etc., etc., etc.
Novamente acabei desistindo do livro e deixando novamente pra madrugada e vim aqui, pra minha cama geladinha de solteiro... Tirei um cochilo ótimo e acordei meio deprimido e peguei o celular e escrevi isso aqui.
O pior é que ainda tem mais, mano!
PS: Obrigado mesmo a todos que me desejaram felicidades e todas essas coisas até o momento; pelo Twitter, Facebook, Orkut, Sms, pessoalmente, sinal de fumaça e tudo o mais. So much love!
22/04/2011 - 15h05