OS AGUAPÉS

Agora estás sereno,

Sem brilho e triste.

E não refletes em tua superfície

As imagens do dia-a-dia.

Estás muito lento e submisso.

As corredeiras já não passeiam pelo teu leito.

Aonde está teu curso

De água natural?

Os aguapés crescem em tuas margens,

E multiplicam-se no espelho d'água.

Ficas inerte, obscuro e sem vida,

Porque foste por eles envolvido.

Os aguapés entrelaçam-se uns aos outros.

Invadem, sem piedade, a tua superfície,

Fazendo desaparecer o espelho d'água.

Parece ser impossível contê-los.

Estás morrendo aos poucos meu rio,

E ninguém percebes isso. Por quê?

Mas não podes morrer agora.

Ainda tens que correr,

Por este leito afora.

O céu derramará lágrimas em quantidade

Para não deixar o mar,

Por ti, sentir saudade.

Tuas criações estão fugindo do aguapezal,

Procurando outras águas brilhantes

Para poderem, com a natureza, viver.

E sem poderem saber, coitados,

Para onde estão indo. Já não se vê, rio acima,

O Tambaqui, o Acará Preto e o Dourado.

Lá se vão também, o Lambari e o Tucunaré.

E, por falta de canarana, o Peixe-Boi.

Mas o pescador sofrido

Ainda não se foi.

Esperando o espelho d'água voltar

Para a pesca começar.

E cada vez mais os aguapés

De ti se apoderam.

Não deixam espaço, para a Piracema,

São como feras aquáticas.

Morto, teu leito vai ficando.

Sem brilho e sem graça se ofuscando.

Que tristeza!

Não se vê mais a beleza do espelho d'água.

Somente os aguapés predominam.

Eles acabaram com tua nobreza fluvial.

Quem te salvarás?

Que te libertará dos aguapés?

E vai se formando uma espécie de tapete,

Ao longo de suas águas.

É a poluição que, agora, te domina.

Haroldo Franco

27/01/1994

Haroldo Franco
Enviado por Haroldo Franco em 22/04/2011
Código do texto: T2924373
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