MENSAGEM DE UM CÃO




Ah, como gosto de minha vida!
Cheguei a essa casa com dois meses de idade. Foram me buscar em uma comitiva, toda família no carro disputando quem me traria ao colo. Ganhou a chefe mor, pois, eu, era um presente dado a ela.

E, já se vão mais de treze anos dessa data!
Ufa, como o tempo passa, nem vi. Em minha infância muito bem cuidada e feliz, fiz algumas traquinagens, como comer meias que encontrava pela casa, o controle da tv, também me apeteceu. Adorava brincar no quintal, tentando agarrar as borboletas de todas as cores que vinham beijar os canteiros de flores. Nunca consegui, elas eram ligeiras demais. As formigas, não tinham a mesma sorte, e com minhas grandes patas, esmaguei muitas.

Adorava quando o dia amanhecia, pois, a quietude da casa era quebrada, e, "ela" descia as escadas da casa e me encontrava na sala de tv, (meu lugar favorito) minha cauda abanava forte, em sinal de alegria, e ela me acaricia, com mãos de veludo, pondo todo seu amor naquele gesto.
Ah, depois era hora do café, feliz ia eu, para cozinha fazer companhia a minha dona, e sempre sobrava um pedacinho de pão ou de queijo branco, para aplacar minha gula.

Até namorado me apresentaram, e era um galã, um campeão, que já havia sido premiado muitas vezes, dentro e fora do país.
Ele era um gentleman, lindo, pelos bem tratado, tímido por natureza. Tive eu que tomar a iniciativa, do contrário não haveria casamento, nem nasceria uma ninhada com nove lindos filhotes, que eu nem sabia qual era o mais belo.
Bondosos, como ninguém mais poderia ser, deixaram-me uma filha para me fazer companhia, e não sentir tanto, cada um dos filhotes, que ia indo embora, após o desmame.

E, essa filha foi minha fiel e amorosa companheira, até três meses atrás, quando uma doença incurável lhe roubou a vida.
Eu, pensei que ia junto com ela, tamanha foi minha tristeza e desalento, mas....o amor e cuidados imensos dessa família, me trouxeram de novo a vontade de continuar a viver.

Agora, no entanto, mesmo com todo o carinho e aconchego que recebo, e olha que não é pouco, minha dona, fica comigo até de madrugada, me acaricia com suas mãos amorosas, me mantém limpa, e anda me oferecendo até chocolate, delícia que nunca antes provei. Mas, que pena.....nada está querendo descer por minha garganta, nada me apetece.

Hoje, acordei pensando, depois de mais uma noite mal dormida que a escolha já está feita, não exatamente por mim, mas por quem me deu à vida.
E penso que estou voltando pra casa de origem, do lugar que sai um dia com a permissão "DELE" para vir ser feliz e fazer feliz essa família que amo tanto.

Creio que é só questão de dias, pelo meu médico, já teria sido!
Veio me ver, e aconselhou a me por para dormir.
Mas, vi minha querida dona, mexer fortemente a cabeça, num gesto negativo.
E, sei, que ela somente me deixará ir quando a hora certa chegar.

Por ora, sigo, com todos os cuidados que mãos amorosas me dispensam: limpa, com fraldas secas, água de coco pra hidratar-me, já que comer não consigo mais, e aguardando a decisão da vida, que soube a hora de me trazer e com certeza sabe a hora de me levar de volta.


(foto da Maui)
Lenapena
Enviado por Lenapena em 22/04/2011
Reeditado em 09/11/2011
Código do texto: T2924046