CRÔNICAS URBANAS 1- Reflexões de um Sem-sonhos.

Eu olhava o movimento dos carros, das motos e das pessoas. Todos apressados, não se apercebiam de nada ao seu redor, não reparavam nas casas, nas lojas, e nem em mim, que também fazia parte da paisagem. Alguns me lançavam disfarçados olhares de pena, outros, nem tão disfarçadamente, me dirigiam olhares de desprezo, e outros ainda, nem sequer me olhavam. Eu já me acostumei a provocar tão diferentes sentimentos nas pessoas, a dividir a opnião delas, a virar tema de discursão internacional. Só não me acostumei ainda a essa vida sem sonhos. O tédio contínuo dos dias eternamente iguais, uma rotina mórbida, debaixo deste ou daquele viaduto, um dia tendo o que comer, e no outro apenas sonhando com a comida. O que leva um ser humano a viver assim? Não sei. Já passou-se o tempo no qual eu filosofava. Sabe, eu já fui um idealista, já quis mudar o mundo, já fui cheio de ideais. Mas, como não mudei a mim mesmo, hoje sou obrigado a engolir o meu orgulho, abaixar a cabeça ante ao título de mendigo. Eu cheguei aonde todos temem um dia chegar, cansei de correr atrás no vento. Hoje, me resigno a sentar e olhar a vida passar, torcendo para a morte chegar, pelo menos assim, o mundo se livraria de mais um ser sem sonhos. Mendigos nunca serão mártires.

Gaby Spencer
Enviado por Gaby Spencer em 22/04/2011
Reeditado em 03/08/2011
Código do texto: T2923810
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