ATRAVÉS DA TRILHA DE LÁGRIMAS

Vi você chorar tantas vezes e me compadecia por isso, principalmente porque você dizia que eu era o culpado daqueles sais de tristeza, cuja opacidade marcou seu olhar pra sempre, fazendo-me crer que eu até realmente fosse o culpado de todas as mazelas emocionais que lhe perturbavam.

Todavia as coisas não eram bem assim, aliás, nunca foram bem assim.

Você entrou na minha vida como quem entra na casa de alguém pela porta dos fundos, sabendo que existe a porta da frente, a que dá pra rua, onde tem uma campainha que a pessoa deve tocar pra se apresentar, e, como foi no seu caso, dissimulou as intenções, sem que eu percebesse um único detalhe de sua trama, bem urdida por sinal, mas que agora desaguou no que deu e como doeu...

Eu acabei sendo cativado por sua beleza exterior aliada a uma outra interior mais intensa ainda, mística, profunda, mas também aterrorizante, dominadora, que castrava as emoções mais liberadas, aquelas guiadas pela beleza da liberdade, como as que vicejavam em mim.

Me deixei levar pelo medo e depois pela compaixão, e o meu erro foi ter confundido tudo isso com paixão. Mas sou humano e erro como todos os outros que têm humildade de não se julgarem perfeitos. E o meu terrível engano foi cair em sua teia e enquanto eu podia escapulir dela sem deixar rancores, não o fiz. Fui ficando, aceitando, até porque tinha uma carência que eu queria abastecer por um passado sofrido e mal-resolvido.

Através da trilha de lágrimas que vi em minha própria face e com que me amargurei me dei conta de que nunca seria feliz se continuasse assim. Então, alguma coisa tinha de acontecer e... aconteceu! Tive de fazer você sentir sua própria trilha de lágrimas, pra que se apercebesse do sofrimento maior que nós dois teríamos de carregar até o fim de nossas vidas, fingindo uma coisa asquerosa e repulsiva e que nos levaria ao ódio, quem sabe até fatal, e eu não queria que você morresse, e nem tampouco queria eu morrer.

Era uma coisa simples. Bastaria que se analisassem os fatos com um pouquinho de razão, em detrimento da excessiva emoção, mas você não quis assim.

Quando tomei a coragem e disse adeus, ainda vi nos olhos seus, a intensa trilha de lágrimas, mas olhei pra frente e fui pra vida. Pra uma outra vida.

Talvez você nunca vá ficar sabendo que, naquele dia, você não foi o único a chorar: escorriam pela minha face intermináveis trilhas de sais que o vento ajudou a esparramar, porém, na minha imagem, apesar de tudo, sempre vai ficar a lembrança do doce encanto do seu sorriso, misto de angélico e maquiavélico, que, com certeza, era a sua força de abordagem pra conquistar as pessoas, assim como eu o fui.

Foi uma pena que eu só tenha podido lhe amar, entretanto não da maneira como você queria, contudo era a que eu achava que tinha de ser, só que você não entendeu e não aceitou isso.

Ficaram na memória as trilhas de lágrimas daquele sofrimento, que tanto me chocou, e nem as coisas boas do nosso viver se resguardaram, pois o vento as encarregou-se de levar pra bem longe...

Foi uma pena...

Em:16-MAR-2006

Djalma
Enviado por Djalma em 21/04/2011
Código do texto: T2922977
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