TEMPESTADE NA FAZENDA

TEMPESTADE NA FAZENDA

Em uma tarde de verão do ano de 1951, por volta das 16 horas, os moradores da Fazenda Baía já pressentiam o grande temporal que estava armando na direção de Piranga.

Chuva armada por aquele lado é chuva certeira, já dizia o velho Zé Lucas, que trabalhava na fazenda, desde o tempo do antigo proprietário Manuel Costa, e que, agora, era habitada pela família do Zé Carneiro.

Começaram os trovões. Começou, também, o medo da Dona Cici...

- Maria Bananal, vá apanhar as roupas do varal! - Priscila, fecha as janelas! -Efigênia, fecha a porta do galinheiro!

Todos estes brados eram da Dona Cici que, com os filhos a acompanhá-la, já iniciava as orações para esse momento :

- Meu Jesus , misericórdia!

A ventania já havia começado. Os bezerros berravam na porteira do curral, pois o Zé Bananal, o retireiro, que tinha ido levar o milho no moinho da Cachoeira, ainda não chegara. A chuva aumentava, a ladainha também: - Jesus, Jesus, Jesus, rezava Dona Cici. - Onde está Jesus não há perigo algum! respondiam os filhos que nessa época eram: Murilo, Ilma, Neide, Marília, Ivone, Maristela e a Marisa que já estava começando a andar. Sônia estava a caminho . Elaine e Ernani ainda estavam no plano de Deus...

A dona Cici comandava: - Ilda! Põe um pouco de ramo bento no fogo!

A chuva continuava mais forte. Os trovões aumentavam, os relâmpagos clareavam o quarto onde estava rezando a família. A cada relâmpago dizia a Dona Cici: - São Jerônimo, Santa Bárbara! Será que o Zezé está na estrada uma hora dessa ? perguntava aflita. O Zezé, como ela chamava o nosso pai, havia saído para aplicar injeção no Colatino Onésimo, no morro do Céu.

Algumas goteiras já começavam a pingar em alguns quartos, pois o vento era muito forte. A chuva apertava e apertavam, também, os apelos da Dona Cici: -Jesus, ouvi nossos rogos! Os meninos respondiam:- pelas lágrimas de Vossa Mãe Santíssima!

Cerca de hora e meia depois, a chuva já havia passado. As janelas foram abertas. O sol começou a aparecer. Lá pelas bandas da Cachoeira do Jurumirim apareceu um lindo arco-íris que nós chamávamos de “arco da velha”. Era a vez do Nego do Zé Lucas dar o palpite: -ele deve estar bebendo água lá na mãe dágua !

Daí a pouco chegava o Zé Carneiro, nosso pai, dizendo que escondeu da chuva na casa do Antonio de Luzia, seu compadre e empreiteiro da fazenda.

No mesmo dia deu para o pessoal conferir o estrago causado pela chuva: a bica de lavar roupa estava sem água; o córrego do moinho estava entupido com terra; uma parte da cerca da horta estava caída; a pinguela do caminho que ia para a casa do Antonio Bananal desceu nas águas do córrego, o que fez com que o Raimundo Bananal gritasse com as suas irmãs Efigênia e Priscila, dizendo para elas dormirem na fazenda.

Depois daquela tarde agitada, veio a noite. Foi a conta do pessoal rezar o terço, tomar o café com biscoito de polvilho, broa de fubá mimoso e rosca. Em seguida, cair na cama, porque ninguém é de ferro...

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Murilo Vidigal Carneiro- Fazenda Baía- Calambau/outubro/98

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 20/04/2011
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