O Amor é Lindo
O amor é lindo! Frase banal, mas tão inusitada quanto inesperada na minha realidade. Pouco mais de 18hoo, na Estação Rodoviária, recebi a namorada, após curta viagem, com um abraço que nos é comum, rotineiro.
Comum, rotineiro, talvez, para nós e para milhões e milhões de pessoas. Mas não para ela. Mais de cinqüenta e menos de sessenta anos, acima do peso, negra e com uma amargura no rosto acima da média do que se vê.
E por ser tão incomum quanto espontânea, tal frase não poderia vir de conhecidos. Apenas dela, solene desconhecida. Após a surpresa inicial e a confirmação de que nenhum de nós a conhecia foi inevitável se perguntar donde lhe veio àquela admiração, quiçá inveja, que não pôde ser contida? Por que ela fez questão de voltar alguns passos para verbalizar seu espanto admirado?
Hoje, tempos depois, aquele amor se transformou em saudade, mas a figura daquela mulher não me sai da memória. Quem seria ela? Quantos foram seus sofrimentos? Seus desejos em vão? Resposta, provavelmente, nunca terei, porém posso imaginar o tamanho de sua solidão. Posso mensurar a sua nunca alcançada vontade de ter tido um “amor que fosse lindo”.
São coisas e situações que a vida nos coloca; e que nos indica o quanto somos felizes. Vivemos sentimentos, sensações, momentos que para ela (e quantos mais?) são pura utopia. São sonhos irrealizáveis. Somos abençoados por termos “lembranças lindas”. Por saber que “recordar é lindo”, ainda que o amor seja conjugado no tempo indesejado.