Uma viagem a Curitiba
UMA VIAGEM A CURITIBA
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 20.04.11)
Uma viagem a Curitiba, por mais despretensiosa que seja, sempre renderá uma penca de oportunidades para que se observe uma série de características da cidade que nem sempre se encontram em outras capitais no Brasil. Uma simples viagem de fim de semana pela capital do Paraná dará ao observador minimamente atento e interessado um panorama do que pode ser feito pela humanização e pela Cultura das cidade brasileiras. Se o viajante for responsável por aspectos da vida urbana em sua terra, terá em Curitiba um curso intensivo e gracioso de ideias ousadas e realizações brilhantes.
O Mercado Municipal de Curitiba está em obras. Em reforma, sim, porém funcionando plenamente. Novinho, ainda uma criança, foi inaugurado em 1958 e passa por melhorias nos boxes e no espaço físico, inclusive com ampliação do mezanino onde funcionam os frequentadíssimos bares e restaurantes da casa. Encontra-se de tudo no Mercado Público, até mesmo sapatos: há ali duas sapatarias, uma para venda de calçados, ocupando cinco boxes, e, a outra, uma pequena oficina de reparos de tacões e meias-solas. O principal do seu leque de serviços, no entanto, é o suprimento de produtos alimentícios de alta qualidade, muitos dos quais difíceis de serem encontrados nas prateleiras padronizadas dos supermercados.
Para o visitante que não aprecia nem comer nem comidas, a cidade oferece a Linha Turismo, um ônibus de dois andares, o superior sendo conversível, que parte de meia em meia hora da Praça Tiradentes, em frente à Catedral, de terças a domingos. A Linha Turismo é administrada pela URBS, uma empresa de economia mista do município. E o que fazem tais ônibus de dois andares? Humilham os viajantes. Eles dão uma longa amostra, de 45 quilômetros de percurso e duas horas e meia de duração, do que é Curitiba, uma cidade de poucos atrativos naturais (nem mar eles têm!) construída e preservada no capricho pela mão do homem. O percurso tem 24 pontos de parada, nos quais os visitantes podem descer e explorar as cercanias, retomando o trajeto em um próximo veículo. Esses pontos incluem desde setores e prédios históricos da cidade até museus, teatros, parques e bosques. Por exemplo: Museu Ferroviário, Museu Oscar Niemeyer (o deslumbrante Museu do Olho) e os Memoriais Árabe, Polonês e Ucraniano; Teatro Paiol, Teatro Guaíra e Ópera de Arame; Jardim Botânico, Passeio Público, Bosque do Papa, Bosque Alemão, Universidade Livre do Meio Ambiente, Pedreira Paulo Leminski, Parque São Lourenço, Parque Tanguá, Parque Tingüi e Parque Barigui.
Uma humilhação atrás da outra, pois está tudo localizado dentro do perímetro urbano da cidade, inclusive em áreas nobres que a especulação imobiliária adoraria devastar para erguer torres de cimento. O Bosque do Papa, só para citar um caso, situa-se ao lado do Centro Cívico, a sede dos três poderes estaduais, nenhum dos quais fica mudando de endereço a cada político que assume o executivo estadual ou municipal.
Ou seja: qualquer governante que deveria administrar (mas, de hábito, pouco o faz) um estado ou uma cidade, uma secretaria estadual ou municipal, um departamento público qualquer, terá logo ali, bem pertinho, 300 quilômetros ao Norte e mil metros acima, uma especialização em criatividade e soluções refinadas, de altíssimos níveis de qualidade humana e cultural (o que é redundante, claro, mas precisa ser sublinhado para que as pessoas percebam que não se logra desenvolvimento humano divorciado de promoção cultural).
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==> Está próximo: Lançamento do livro "Se Te Castigo É Só Porque Eu Te Amo" (teatro), de Amilcar Neves, será no dia 29 de abril, sexta-feira, às 20h30, na Barca dos Livros, em frente aos trapiches da Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Gostaria muito de poder abraçar vocês lá.