A PARIS QUE EU VI - II

Caminhar descontraído pelas ruas de Paris, onde a arte de viver extrapola todo e qualquer entendimento, é o programa mais adequado para quem deseja conhecer a alma e o coração dessa capital extraordinária e seu povo sui gêneris. Andando sem pressa, talvez sem rumo mas consultando o mapa, anotando, perscrutando, olhos bem abertos, vamos descobrindo as minúcias de sua vivência, a essência de seus sussurros, as coerências e incoerências invisíveis a olhares desatentos, o pulsar de seu coração fervilhante, o toque pessoal de sua rotina. Por esse intermédio é-nos mais fácil e encantador ver seus recônditos, trilhamos seus passos e acendemos nossos sorrisos nas fagulhas que saltam dos deles. São ruas estreitas atravancadas com carros estacionados de ambos os lados, todos a poucos centímetros uns dos outros(não sei como conseguem sair de tamanho aperto), mais adiante largas avenidas que nos surpreendem, gente debruçada nas janelas dos apartamentos deitando olhos entediados no movimento em derredor, filas nas padarias, a correria da hora do rush.

Assim nós, meros visitantes intrigados com essa bagunça organizada, bem ali entre eles como se fizéssemos parte dessa azáfama, ficamos a fitar distraídos a manhã que segura o sol com uma mão e se abana com a outra, ou a tarde que dobra para o ocaso, mas só termina seu entardecer quando a noite lembra que é hora de passar o bastão para ela. E eu, ali esquecido do ontem e do hoje, reflito que andar por linhas retas em Paris conduz a um só caminho, um alvo prédeterminado. Porém, por linhas tortas se descortinam inúmeras e amplas possibilidades, muitas imperdíveis. Pois que, naquelas encontraremos somente o previsível, e nestas a surpresa do inédito e do inesperado.

E foi justamente através dessas andanças parisienses que me deparei com a Rua Victor Hugo, à frente da qual fiz questão de ser fotografado sorrindo malicioso. Explico a razão desse comportamento: há cerca de vinte anos, como membro da Academia Mossoroense de Letras, AMOL, apresentei em uma reunião a idéia, a ser enviada à Câmara de Vereadores da cidade, de ser registrado nas placas de ruas um resumo biográfico de seus patronos, proposição imediatamente aprovada por unanimidade e remetida à referida CV, que, por sua vez também a aprovou sem restrição. Contudo, passados os anos, nunca a idéia foi posta em prática. E agora, por ironia ou não do destino, ali na mais civilizada e cultas das capitais mundiais eu simplesmente me deparava com minha idéia concretizada. Não era mesmo acontecimento para extrair de mim o mais mítico dos sorrisos?

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Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 20/04/2011
Reeditado em 20/04/2011
Código do texto: T2919599
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