Dia de Índio
19/04/2011 – 10h26m
Que epacmástica apatia me assola a alma! Fico a me perguntar onde vou parar desse jeito...
Há algo em mim que precipita o fim das coisas; há algo em mim que é o mais puro pessimismo; há algo em mim que são apenas as traças arredias do que um dia foi alguma coisa boa. Devo ter lá o meu quinhão de culpa por me tornar um obcecado quando tenho a figurativa “posse” de alguém que faz com que a minha taquicardia pulse com alegria; devo eu mesmo ser o culpado de todas essas cicatrizes por ter me deixado ficar vulnerável demais com quem não deveria.
Paciência... Minha confiança é tão auto-regenerativa quanto as membranas que transpassei com a minha rigidez pulsante.
(...)
19/04/2011 – 11h50m
Sensação de nulidade dos infernos... Nada pra fazer e nenhuma idéia que se aproveite aparecendo. O japonês foi bem feliz quando suscitei nele a primeira impressão de que eu era como aquela criança que toma seis latinhas de Redbull pensando que é refresco. Isso me faz pensar no quanto eu sou insuportável: ontem mesmo só consegui lembrar que meu corpo precisa expelir urina depois da quinta hora do expediente cumprida e fiquei um tanto quanto rabugento por não ter tempo pra nada; já hoje acordei em petição de miséria de tanto sono e cansaço – ocorreu-me que minha força estava na barba, e, escanhoando-a da minha fuça, perdi tal vigor - que pensei em ficar na cama ao ver que poderia ter outro dia corrido com a bexiga imperceptivelmente cheia. E agora cá estou, reclamando do marasmo...
19/04/2011 – 12h30m
Achei algo interessante: Kipp Rusty Walker
19/04/2011 – 13h07m
Caralho, já é hora do meu almoço e estou nessa fila idiota da Caixa, com esses velhos que morreram e ainda não enterraram porque eles ainda prestam pra pagar contas. Aliás, acho um absurdo alguém que chega na terceira idade ter que pagar contas – porra, depois dessa vida que já é desgraçada por si só!? Deveriam incinerar os estupradores, os padres pedófilos e os apresentadores de programas de futebol e reverter os recursos pra manter esses glutões/lixos vivos e dar um restinho de vida bacana para os vovôs e vovós...
Na verdade, a Caixa é o banco que eu mais gosto: o ar-condicionado é bem geladinho, é o único que tem cadeiras – que são bem confortáveis e favoráveis ao sono, por sinal – e uma das atendentes da linha de frente – essas trainees/sei lá – é uma belezinha daquelas. Ah, olha lá meu número, tchau!
19/04/2011 – 13h16m
Também gosto da Caixa porque ela é a agência que fica mais longe da empresa e a caminhada abrange duas saídas do Metrô, o que em outras palavras significa “miríades de gostosas brotando por todos os lados”...
Entre uma pescoçada e outra meu celular anunciou o recebimento de um sms. Meu celular só recebe: 1) Aviso que eu não tenho saldo; 2) Carnero reclamando ou morrendo; 3) Alguma ex namorada estúpida e mal-comida pelo atual que se lembra de mim e vem mendigar atenção; 4) O eterno “eu avisei” oriundo da voz do Carnero na forma de palavras de alguma encrenca em que ele NÃO pôde avisar por força maior e 5) Algum milagre divino ou notícia boa. No caso, o sms em questão veio da Carol, minha amiga do peito, informando um número de telefone pra eu ligar e cobrar a PLR da latrina de empresa que me causou tantos problemas (entre eles os cento e vinte textos sobre suicídio e blablablá). Gostei da notícia.
19/04/2011 – 13h25m
Chego na sala e não há ninguém. Todos foram almoçar. Que ótimo! A bateria do meu MP4 arriou e aproveitei para recarregá-la por uns 10 minutos antes de partir pro almoço. Uma das meninas chegou e eu expliquei sobre uma encrenca que eu havia arranjado no primeiro banco e quem ela deveria comunicar sobre. Os outros dois chegaram com casquinhas de sorvete, o que significa que almoçaram num restaurante metido a besta que fica nos fundos de uma galeria de coreanos e que cobra o olho da cara em comida requentada no microondas e que, porém, tem a melhor panqueca que eu já comi na vida. Mas nunca mais teve panqueca. Liguei no telefone que a Carol passou mas a ligação não completou, talvez por causa do telefone restrito da empresa. Por se tratar de 0800, resolvi ligar depois e parar de enrolar. Decidi ir no barzinho de sempre. Mas antes abri o e-mail e fiquei feliz em saber que eu ajudo as pessoas a desatarem seus nós e dissiparem suas nuvens negras com o que eu escrevo (mesmo sem entender como, porquê, e quais sãos os nós e quais são as nuvens). Li também um Fotolog com um texto muito bem escrito e com uma visão da Rua que muito me apraz. Por fim, fui comer.
19/04/2011 – 13h49m
Liguei do celular e disse que o número não pode receber chamada do meu número (redundância proposital). É foda... KARMA parece ser a palavra que me une àquele diabo de lugar.
Já no restaurante, tomei o cuidado de despistar um tio atrapalhado com cara de manguaceiro que sempre me premia com o que eu não pedi e consegui comer em paz, olhando um programa em que três marmanjos ficam sentaods falando sobre futebol com umas enquetes na parte inferior da tela, tipo:”Robermaldo fica ou não no Curintia?”; e sempre rola de aparecer outra imagem com a tragédia do momento dando a pincelada final na palhaçada toda.
A comida veio rápido e a porção à parte de purê veio fria. Na vez anterior veio salgada. Comi, fechando os olhos a cada garfada, já que minha garganta está inflamada. Talvez seja por causa do suco de açaí com laranja geladíssimo que tomei no sábado na Augusta ou por causa de uma outra coisa – ocorreu-me agora o insight sobre esta segunda possibilidade. Comecei a digitar isso aqui no banco por não ter idéias e já na mesa eu não conseguia me concentrar na comida pela profusão delas; palavras se embaralhando na minha frente; memórias se misturando com a paisagem do momento; uma fusão de um milhão de coisas – até que mordi a língua e decidi parar de viajar. A conta ficou salgada como o purê das segundas-feiras, como sempre. Fiquei com quatro reais na carteira. Peguei uma paçoca e fui comendo até a farmácia. Muito inteligente da minha parte comer paçoca com a garganta parecendo um ônix de tão áspera. Comprei a pasta de dente e fiquei com um real na carteira pra durar até o dia do pagamento.
19/04/2011 – 14h35m
Não deu pra fazer 1 hora de almoço, pra variar um pouco. Só deu tempo de escovar os dentes e ir até o banco resolver a treta que arranjei pela manhã. Só que no banco a coisa começou a ficar esquisita pro meu lado; minhas tripas se revirando e eu suando frio. “Pronto”, pensei. A fila normalmente é rápida. Mas não estava rápida. Comecei a me sentir entalado, como se eu tivesse engolido a paçoca (que era da quadrada) inteira e ela tivesse ficado presa na goela. Comecei a suar frio, a tossir. Comecei a ver a Morte na minha frente. Faltavam duas pessoas quando pensei que ia desmaiar. Resolvi a coisa e fui direto pro bebedouro dos funcionários, numa área restrita. Acaba-se pegando certa regalia com o convívio com eles. Fiquei lá, bebendo meia dúzia de copos d’água mas a coisa parecia não desentalar. E se eu desse uma cagada? O Santander que fica logo ao lado tem um banheiro chiquérrimo e amplo nos fundos da agência, o qual já dei uma visitadinha em certa manhã de desarranjo intestinal. Olhei o relógio. Não, eu não tinha tempo pra cagar, literalmente. Saí do banco e voltei pra empresa pra pegar os documentos do Banco do Brasil.
19/04/2011 – 15h28m
Fui direto pro elevador dos fundos. Ele estava parado no nono. Demorou muito tempo até parar no oitavo. Depois, demorou muito mais tempo até parar no sétimo. Acabei desistindo e fui pro elevador da frente, que estava no oitavo. Demorou. Demorou. Desceu e parou no sexto. Demorou mais ainda e eu voltei pro elevador dos fundos, que ainda estava no quarto. Voltei pro elevador da frente e ele chegou. Desci no oitavo, cogitando a possibilidade de enfiar o dedo na goela e acabar com aquela coisa esquisita de uma vez, mas meu celular tocou. Perguntaram onde eu estava porque havia surgido uma coisa de última hora e de valor altíssimo. Desci até o quinto pelas escadas, resignado. O engraçado é que no meio da escada do oitavo uma porta do sétimo foi aberta e saiu de lá uma dessas coisinhas de academia, usando calça batom e salto alto e uma bata branca marcando tudo; carregando uma bandeja. Ela sorriu pro alto da escada, pra mim, e entrou na porta do outro lado. Acelerei o passo e fiquei observando suas ancas tremelicando. Cheguei no quinto um pouco melhor. Logo de cara me deparo com quem menos gostaria. O procedimento das três encrencas começou a ser explicado – coisa que eu já estava ficando careca de saber, por sinal – por uma fulana e eu não conseguia me concentrar pois senti um toque no rosto e um “olha só, não falei que ia ficar bem melhor sem aquela barba horrível” vindo da outra fulana. Desci as escadas praticamente flutuando e esquecendo meu mal estar de minutos antes.
19/04/2011 – 15h50m
Entediado na fila, depois de ficar entediado esperando os procedimentos macabros que os bancários fazem atrás daquelas paredes brancas. Passando menos mal. De saco cheio das mesmas músicas. Morrisey besta. Brian Molko besta. Rodrigo Lima besta. Não conseguindo escrever. Até que surge uma espécie de paquita do oriente; uma espécie de Xapapaula xingue-lingue e fica atrás de mim na fila. A fila andou e fui premiado com o Bigode, que atende as velhinhas. Expliquei como a coisa deveria ser feita e ele não me deu ouvidos com toda a sua sapiência e fez errado; acabou tendo que fazer de novo. Fiquei me achando.
19/04/2011 – 16h32m
Fiz algumas etiquetas no Word, organizei um pouco de arquivo, tirei algumas cópias de inúmeras coisas, levei meia dúzia de resmas pro oitavo. Lá, fui enquadrado por quem não deveria – novamente – e por mais umas duas. A pauta, claro, o ex-Bin Laden. Ah, se eu tivesse a petulância de um missivista! Reprimi o pensamento e discuti um pouco a mesma coisa de uma semana atrás com um mesmo rapaz e ninguém chegou a conclusão alguma novamente. Desci pro quinto.
19/04/2011 – 17h05m
Não lembro o que estava fazendo, mas acabei sendo escalado pra fazer uma visitinha aos Correios da Oswaldo Cruz. Peguei a coisa e coloquei debaixo do braço e fui. Fim de tarde com nuvens laranjas e rosadas no céu; arzinho fresco... Finalmente o Outono que eu conheço e tanto gosto! Não tive muitos problemas no meio do caminho, excetuando que o pacote sob meu braço me lembrava o meu skate, que por sinal estava em casa. Sorte madrasta. Despachei o troço e voltei olhando aquela praça fedorenta em que já discuti uma relação e já levei beliscão de uma mãe apressada em outra situação. Acabei voltando pelo lado da Casa das Rosas e, fustigado por um impulso de pura esbórnia, escorreguei pra dentro do local e dei um passeio por lá, ouvindo o Brian Molko falando de um tal de garoto do século 21. Cara, esse álbum de covers do Placebo é quase tão bom quanto Coca-Cola gelada! Enfim. Gostei do café e das poucas rosas propriamente ditas que tem por lá. Dá pra rolar um chillin’ pós-session bacana lá ao invés da já manjada beer time na droga da Rua Augusta.
19/04/2011 – 17h47m
Subi no oitavo e entreguei o protocolo pra responsável e resolvi tomar um café olhando a Brigadeiro e invejando e observando o pessoal do apartamento ao lado. “Humpf”, grunhi e desci. Abri o Word e comecei a trabalhar nisso aqui.
19/04/2011 – 18h58m
Pensa que minha vida é fácil? Acabei agora; já era pra eu estar batendo a lateral da cabeça no vidro do primeiro (dos três) ônibus que eu pego pra voltar pra casa. Tá, você não perguntou e não pediu pitaco e nem texto nenhum, mas é que... Bom, tenho que ir. Ir de mau humor porque paguei o olho da cara me inscrevendo na academia que o Carnero treina e não vou poder ir por causa dessa droga de garganta e mal estar esquisito.
19/04/2011 – 19h00m
Tchau!
19/04/2011 - 19h04m
Ah, hoje é aniversário da minha mãe! hihihihi