Os graus da coisas
Ao nos deparamos com um deslize menos preparado para não ser percebido, ou seja, uma mentira, e houver com quem comentar chegamos a dizer: “mas que mentira danada!”, quando não ficamos calados e “engolimos seco” aquela lagartixa cascuda goela abaixo. O problema das mentiras, hipocrisia, meias-verdades, etc. é o grau em que acontece diante da circunstância. Não, eu não sou adepto da mentira, eu diria, mas aí já estaria mentindo em minha defesa porque todos nós sabemos que mentimos num grau que esteja dentro do “aceitável”. A palavra grau é que é o “X” da questão. Nem só de temperatura vive a tal palavra. Ela tem uma infinita gama de aplicações e nós, no dia a dia, não percebemos o quanto estamos usando de forma direta e, principalmente, indireta. O grau de motivação é quem vai dizer. – “Aquela cantora tem uma afinação perfeita”; “Minha rua ficou totalmente inundada naquele toró de ontem”; “Nosso amor será para sempre”; “O centro-avante do meu time já merece um lugar na seleção” (por coincidência é o “Rodrigo Gral” do Santa – detalhe: ele nem é o titular, é que não resisti ao trocadilho infame). Os superlativos, as mentiras generosas, os elogios exagerados, são demonstrações do quanto faltamos com a verdade pela circunstância da paixão pelo assunto ou até por hábito, isto é, aumentamos o grau. Acredito mesmo que tudo o que falamos tem um grau de importância: um para quem fala, outro para quem escuta e um eventual verdadeiro grau e nós passamos por essa palavra sem perceber a sua importância. Talvez se déssemos os graus do que vivemos fossem mais ajustados à uma realidade resultante.