CARISMA E RIVALIDADE

      As páginas amarelas da revista Veja desta semana (20 de abril, nº 16) trazem algumas “confissões” do padre Marcelo Rossi, numa surpreendente entrevista. Proposital ou não, a matéria veio a público em plena semana santa, período em que já se tornou comum alguns filmes e outros lançamentos do gênero atenderem a vários interesses, menos à evangelização.

     Considerado líder maior da Renovação Carismática Católica no Brasil, Pe Marcelo diz-se injustiçado pela hierarquia da arquidiocese de São Paulo, que o boicotou, impedindo-o de ter acesso ao Papa Bento XVI, quando esteve aqui no Brasil. Estas e outras alegações evidenciam na reportagem o que já se constatava antes mesmo da influência de Rossi: uma velada divisão entre católicos tradicionais e os carismáticos. Estes, seguidores de uma linha não totalmente aceita pelo alto clero, mas por ele tolerada graças ao inegável arrebanhamento de novos fieis atraídos pela Renovação, especialmente pelo mito Marcelo Rossi. O dom de se manifestarem em outras línguas e as revelações do Espírito Santo constituem um ameaçador divisor de águas tendente a uma possível ruptura com a milenar unidade da Igreja de Pedro.

     Ora, se tudo isso a outros seguimentos cristãos causa estranheza, aos católicos praticantes causa temor e espanto. Aqui não defendo nenhuma das partes, embora me declare católico da linha tradicional. Sem excessos, sem fanatismos, é claro. Há virtudes e pecados em ambos os lados. No meio, um rebanho quase sempre mal conduzido. E assim desorientado se pergunta: pra que lado ir?

     Certamente, digo eu, nem pro lado do fanatismo ilusório, visionário e bilíngue, nem pro da pomposa e ostensiva hierarquia clerical tão distante dos princípios verdadeiramente cristãos. Isto, não só eu, mas qualquer cristão abomina. Quando se diz “O que Deus uniu o homem não separe”, (Belíssima frase que na boca dos fariseus virou chavão), em muitos casos deve-se admitir este paradoxo: Cristo veio para unir; a igreja veio para separar. Contra a igreja eu? Jamais. Em meio a tudo isso aprendi também uma verdade incontestável: “Tua igreja é um corpo, cada membro é diferente". Isto me diz muito e me evita enveredar por outros rumos. Como diz Rossi na entrevista, há padres e padres. O padre Jonas Abib faz uma analogia fantástica sobre a igreja, comparando-a a um hospital. Um hospital não pode recusar doentes em quaisquer circunstâncias. É função dele cuidar de todos indistintamente. Padre Antõnio Vieira, no Sermão da Sexagésima, fala do por que "fazer pouco fruto a Palavra de Deus no mundo."  Você que me honra com sua leitura, quer saber detalhes? Leia  Pe Jonas Abib (carismático dos nossos dias) e Pe Antônio Vieira, ( maior orador sacro do período Barroco).    
    
     Releio as páginas amarelas e me reporto a um caso igualmente concreto vivenciado aqui em minha cidade. Uma rádio católica, da linha mariana, foi dura e cruelmente perseguida pela arquidiocese de Brasília, na pessoa do então Arcebispo Dom João Braz que, por não ter a tal emissora sob o seu comando, chegou ao cúmulo de mandar distribuir panfletos difamatórios nas paróquias, advertindo os fiéis para não sintonizarem a tal rádio. E mais, mandou cortar a energia e derrubar os transmissores. Felizmente esse cidadão foi para Roma e lá, metido naqueles paramentos que o coloca mais vultoso que o Papa, certamente fará das suas para dele se tornar sucessor...

     Claro, isto é uma ironia àquele componente do clero, composto de bispos e cardeais quase todos mais pomposos do que todo o Vaticano. Constatar isto é triste. Mas nunca motivo de ir contra a Igreja. Esta jamais será perfeita. Mas será bem melhor quando funcionar como um hospital. Onde há carismas e milagres em meio às dores que não suportam rivalidades.

Brasília, 18 de abril de 2011





LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 18/04/2011
Reeditado em 20/04/2011
Código do texto: T2917023
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