O "paraíso" de Dimas, a serviço do estelionato espiritual
Segundo a Bíblia, Jesus Cristo foi crucificado entre dois malfeitores, um dos quais, o Dimas, na hora extrema, demonstra arrependimento pelos seus malfeitos e reconhece ser Jesus uma vítima inocente da ignorância e crueldade dos seus algozes. Nada mais há no trecho bíblico (Lucas 23:39-43) que narra esse fato – e que entrou para o acervo catequético das chamadas religiões cristãs como a “História do Bom Ladrão” – que possa sugerir que Dimas haja se convertido à ideologia cristã. No entanto, ele pede: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino”, ao que Jesus lhe responde: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.”
Que paraíso é esse que Jesus assegura categoricamente a Dimas em troca de um incipiente gesto de redenção moral e que, talvez como tantos outros fatos bíblicos interpretados ao sabor dos interesses religiosos, venha sendo usado com bom proveito, ao longo dos anos, pelas indústrias de salvações fáceis?
É notório que tanto as leis religiosas quanto as sociais não sancionam o puro e simples arrependimento como condição suficiente para o perdão ou quitação de débitos morais e sociais. O arrependimento por parte do culpado é, no máximo, considerado como fator relevante no julgamento ou na aplicação da pena, a qual só é evitada pela reparação completa do mal ou do dano causado. Se, naquela altura da sua pouco recomendável vida de ladrão, à beira da crucificação fatal, Dimas nada mais poderia reparar a quem quer que fosse e, ademais, sem outros indícios de crescimento moral e espiritual, além de ter acreditado no “seu reino”, é estranho que tenha merecido da parte de Jesus muito mais que um perdão, pois recebeu a garantia de que, naquele mesmo dia, ele estaria no "paraíso".
No entanto, o célebre Padre Antonio Vieira, um gênio da retórica religiosa, à luz dos dogmas da Religião Católica, justifica a salvação de Dimas pela sua completa impossibilidade de restituir naquela hora – por estar crucificado e à beira da morte - o que porventura tivesse roubado, e pelo seu sangue derramado na cruz – o que lhe supriu o batismo cristão.
Vale lembrar, todavia, que Jesus Cristo não professava nenhum credo religioso, o que nos autoriza a acreditar que as suas palavras: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” nada têm a ver com quaisquer conceitos das religiões humanas sobre a salvação da alma. Por outro lado, se os ensinamentos de Jesus pregavam a observância do trinômio fé-amor-caridade como condição sine qua non para a salvação, não se concebe que tenha alçado ao paraíso um ladrão simplesmente arrependido e que dera apenas um tímido primeiro passo na fé.
Será mais crível que, a exemplo de tantos trechos bíblicos, o verdadeiro sentido das palavras: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”, que, no caso de Jesus, mais lógico seria: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo na vida eterna” tenha sido distorcido por sucessivas traduções (aramaico-grego-latim), alterado ou manipulado pelas religiões humanas, para culminar na banalização da salvação fácil, bem ilustrada no slogan religioso “Crê em Jesus como teu salvador e serás salvo!”
Tendo em vista que os trechos bíblicos sofreram influências, em suas sucessivas traduções, das ideologias religiosas, é lícito acreditar que a palavra “paraíso” tenha sido utilizada por Jesus com outro sentido, com outra simbologia, ou talvez nem mesmo tenha sido utilizada. Por outro lado, a seriedade e pragmatismo que caracterizavam a retórica religiosa de Jesus desautorizam, especialmente no momento supremo de sua morte, uma atitude espiritual tão leviana quanto seja a de prometer um paraíso imediato a um ladrão arrependido que, de repente, sensibilizado pelo seu injusto sofrimento, passara a acreditar no “seu reino”.
No entanto, tanto antes quanto hoje - na era da Internet - muitos jamais duvidarão do "paraíso" de Dimas e muitos continuarão a esperar por um "paraíso"semelhante, porque o caminho é largo e fácil: basta acreditar em Jesus. Simples assim.
Ora, acreditar em Jesus, nos seus ensinamentos e, sobretudo, praticá-los no dia-a-dia, pode, sem dúvida alguma, conduzir o praticante a um substancial crescimento moral e espiritual, mas, daí a julgar-se merecedor de um lugar ao lado dos anjos, é uma fantasia espiritual que profissionais do proselitismo religioso costumam impingir como verdade absoluta a espíritos fracos e crédulos. E serão muitos os que continuarão a aceitar essa "lavagem cerebral" pacificamente, pois é realmente tentador um tipo de "salvaçãa da alma" que depende só de simbolismos religiosos, palavras, cantorias, rituais ou dízimos.
No momento em que se vende, com cinismo impune, água de torneira como água do Rio Jordão, pedaços de madeira envelhecida como pedaços remanescentes da cruz na qual Jesus foi crucificado, frascos de óleo de cozinha como frascos do óleo usado nos cabelos do profeta nazareno, o lendário "paraíso" de Dimas é material precioso para promover a banalização do reino de Jesus que, bem alimentada pela eloquência de alguns “secretários de Deus”, faz prosperar cada vez mais uma rendosa indústria de salvação de almas.
Segundo a Bíblia, Jesus Cristo foi crucificado entre dois malfeitores, um dos quais, o Dimas, na hora extrema, demonstra arrependimento pelos seus malfeitos e reconhece ser Jesus uma vítima inocente da ignorância e crueldade dos seus algozes. Nada mais há no trecho bíblico (Lucas 23:39-43) que narra esse fato – e que entrou para o acervo catequético das chamadas religiões cristãs como a “História do Bom Ladrão” – que possa sugerir que Dimas haja se convertido à ideologia cristã. No entanto, ele pede: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino”, ao que Jesus lhe responde: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.”
Que paraíso é esse que Jesus assegura categoricamente a Dimas em troca de um incipiente gesto de redenção moral e que, talvez como tantos outros fatos bíblicos interpretados ao sabor dos interesses religiosos, venha sendo usado com bom proveito, ao longo dos anos, pelas indústrias de salvações fáceis?
É notório que tanto as leis religiosas quanto as sociais não sancionam o puro e simples arrependimento como condição suficiente para o perdão ou quitação de débitos morais e sociais. O arrependimento por parte do culpado é, no máximo, considerado como fator relevante no julgamento ou na aplicação da pena, a qual só é evitada pela reparação completa do mal ou do dano causado. Se, naquela altura da sua pouco recomendável vida de ladrão, à beira da crucificação fatal, Dimas nada mais poderia reparar a quem quer que fosse e, ademais, sem outros indícios de crescimento moral e espiritual, além de ter acreditado no “seu reino”, é estranho que tenha merecido da parte de Jesus muito mais que um perdão, pois recebeu a garantia de que, naquele mesmo dia, ele estaria no "paraíso".
No entanto, o célebre Padre Antonio Vieira, um gênio da retórica religiosa, à luz dos dogmas da Religião Católica, justifica a salvação de Dimas pela sua completa impossibilidade de restituir naquela hora – por estar crucificado e à beira da morte - o que porventura tivesse roubado, e pelo seu sangue derramado na cruz – o que lhe supriu o batismo cristão.
Vale lembrar, todavia, que Jesus Cristo não professava nenhum credo religioso, o que nos autoriza a acreditar que as suas palavras: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” nada têm a ver com quaisquer conceitos das religiões humanas sobre a salvação da alma. Por outro lado, se os ensinamentos de Jesus pregavam a observância do trinômio fé-amor-caridade como condição sine qua non para a salvação, não se concebe que tenha alçado ao paraíso um ladrão simplesmente arrependido e que dera apenas um tímido primeiro passo na fé.
Será mais crível que, a exemplo de tantos trechos bíblicos, o verdadeiro sentido das palavras: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”, que, no caso de Jesus, mais lógico seria: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo na vida eterna” tenha sido distorcido por sucessivas traduções (aramaico-grego-latim), alterado ou manipulado pelas religiões humanas, para culminar na banalização da salvação fácil, bem ilustrada no slogan religioso “Crê em Jesus como teu salvador e serás salvo!”
Tendo em vista que os trechos bíblicos sofreram influências, em suas sucessivas traduções, das ideologias religiosas, é lícito acreditar que a palavra “paraíso” tenha sido utilizada por Jesus com outro sentido, com outra simbologia, ou talvez nem mesmo tenha sido utilizada. Por outro lado, a seriedade e pragmatismo que caracterizavam a retórica religiosa de Jesus desautorizam, especialmente no momento supremo de sua morte, uma atitude espiritual tão leviana quanto seja a de prometer um paraíso imediato a um ladrão arrependido que, de repente, sensibilizado pelo seu injusto sofrimento, passara a acreditar no “seu reino”.
No entanto, tanto antes quanto hoje - na era da Internet - muitos jamais duvidarão do "paraíso" de Dimas e muitos continuarão a esperar por um "paraíso"semelhante, porque o caminho é largo e fácil: basta acreditar em Jesus. Simples assim.
Ora, acreditar em Jesus, nos seus ensinamentos e, sobretudo, praticá-los no dia-a-dia, pode, sem dúvida alguma, conduzir o praticante a um substancial crescimento moral e espiritual, mas, daí a julgar-se merecedor de um lugar ao lado dos anjos, é uma fantasia espiritual que profissionais do proselitismo religioso costumam impingir como verdade absoluta a espíritos fracos e crédulos. E serão muitos os que continuarão a aceitar essa "lavagem cerebral" pacificamente, pois é realmente tentador um tipo de "salvaçãa da alma" que depende só de simbolismos religiosos, palavras, cantorias, rituais ou dízimos.
No momento em que se vende, com cinismo impune, água de torneira como água do Rio Jordão, pedaços de madeira envelhecida como pedaços remanescentes da cruz na qual Jesus foi crucificado, frascos de óleo de cozinha como frascos do óleo usado nos cabelos do profeta nazareno, o lendário "paraíso" de Dimas é material precioso para promover a banalização do reino de Jesus que, bem alimentada pela eloquência de alguns “secretários de Deus”, faz prosperar cada vez mais uma rendosa indústria de salvação de almas.