Da Imortalidade Acadêmica
A imortalidade que a Academia concede decorre, antes de tudo, do compromisso dos empossados invocarem os seus antecessores. É também assim que eles renascem, tornando-se imortais, paradoxalmente, à medida que passam os centenários da sua morte, o que também poderá ser tempos somados ao esquecimento, se obras e valores da pessoa imortalizada não motivarem citações e alimentarem essas lembranças. Invocações ou lembranças, por muitos e durante o tempo em que deveriam fazê-las, raras, daí caras, mas necessárias à desejada imortalidade. Mas que imortalidade é esta que só cresce e tem vida, talvez, depois da morte? Neste sentido, a inveja dos homens entre si só se atenua quando os concorrentes falecem e assim consente reconhecimentos.
Ainda, porém, se assim é a imortalidade, “post mortem”, priva-nos da liberdade, que buscamos durante a vida e que só pareceria plena depois da morte. Seria a liberdade de poder mudar coisas e obras que realizamos em vida, a conduta cidadã e ética, enfim o que nós fomos. Jean-Paul Sartre, na sua obra “Huis Clos” (À Porta Fechada), trata desta liberdade: “Nous sommes touts vivants et qu’ils sont morts... qui ne cherchent même pas à changer (Nós somos todos vivos... mas, aqueles que morreram nada procurem mudar”. O que para mim significa ao morto, mesmo na imortalidade, perder a liberdade de desejar mudanças no que ele foi, no que falou, no que escreveu e nas consequências das suas ações. Neste raciocínio existencialista, o imortal seria eternamente vítima dos julgamentos e juízos que ocorrerão sobre ele e sobre suas obras, sem chance de defesa, de melhorá-las ou de, pelo menos, modificá-las. Conclui-se que tudo o que o candidato à imortalidade “post mortem” tem a fazer é tão somente em vida.
Se assim é o tempo desta imortalidade, privativa da liberdade de mudanças, o imortal seria, na peça teatral, nada mais nada menos prisioneiro da escuridão, sem luz e “à porta fechada”, “limitados num quarto sem porta e sem janela”. É mais agradável se alegrar com a ideia de que, depois da vida, não se necessite mais de espaço e de tempo e que essas metáforas são apenas literárias ou comparações para se compreender melhor a mortalidade ou, quiçá, a pretensa imortalidade. Talvez, aos desapegados de vaidades, imortais em vida, o reconforto é escutar Rainer Maria Rilke: “O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada. Ser artista não significa contar, mas crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir. O verão há de vir. Mas só virá para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem à frente a eternidade.”
A imortalidade que a Academia concede decorre, antes de tudo, do compromisso dos empossados invocarem os seus antecessores. É também assim que eles renascem, tornando-se imortais, paradoxalmente, à medida que passam os centenários da sua morte, o que também poderá ser tempos somados ao esquecimento, se obras e valores da pessoa imortalizada não motivarem citações e alimentarem essas lembranças. Invocações ou lembranças, por muitos e durante o tempo em que deveriam fazê-las, raras, daí caras, mas necessárias à desejada imortalidade. Mas que imortalidade é esta que só cresce e tem vida, talvez, depois da morte? Neste sentido, a inveja dos homens entre si só se atenua quando os concorrentes falecem e assim consente reconhecimentos.
Ainda, porém, se assim é a imortalidade, “post mortem”, priva-nos da liberdade, que buscamos durante a vida e que só pareceria plena depois da morte. Seria a liberdade de poder mudar coisas e obras que realizamos em vida, a conduta cidadã e ética, enfim o que nós fomos. Jean-Paul Sartre, na sua obra “Huis Clos” (À Porta Fechada), trata desta liberdade: “Nous sommes touts vivants et qu’ils sont morts... qui ne cherchent même pas à changer (Nós somos todos vivos... mas, aqueles que morreram nada procurem mudar”. O que para mim significa ao morto, mesmo na imortalidade, perder a liberdade de desejar mudanças no que ele foi, no que falou, no que escreveu e nas consequências das suas ações. Neste raciocínio existencialista, o imortal seria eternamente vítima dos julgamentos e juízos que ocorrerão sobre ele e sobre suas obras, sem chance de defesa, de melhorá-las ou de, pelo menos, modificá-las. Conclui-se que tudo o que o candidato à imortalidade “post mortem” tem a fazer é tão somente em vida.
Se assim é o tempo desta imortalidade, privativa da liberdade de mudanças, o imortal seria, na peça teatral, nada mais nada menos prisioneiro da escuridão, sem luz e “à porta fechada”, “limitados num quarto sem porta e sem janela”. É mais agradável se alegrar com a ideia de que, depois da vida, não se necessite mais de espaço e de tempo e que essas metáforas são apenas literárias ou comparações para se compreender melhor a mortalidade ou, quiçá, a pretensa imortalidade. Talvez, aos desapegados de vaidades, imortais em vida, o reconforto é escutar Rainer Maria Rilke: “O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada. Ser artista não significa contar, mas crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir. O verão há de vir. Mas só virá para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem à frente a eternidade.”