Yes! Nós temos Eucalol!
Pego carona num vagão de lembranças alheias para lamber as minhas próprias. Um simples cheiro de sabonete Eucalol e a complexa rede a que chamam memória viu-se limpa e perfumada. Era domingo em Marechal Hermes. E domingo rimava com Santa Emília, um cinema pulguento que nos recebia a todos, aliás indiferentes aos não menos indiferentes sifonápteros.
O menos importante era o filme. Bang-Bang, desenho animado, dramas incompreeensíveis para minha alma encantada, o facho de luz repleta de poeira do projetor, talvez fosse uma espécie de janela do quarto pela manhã, aberta ao sorriso do sol.
À entrada, já na doceria - não havia ainda a bombonière - as diferenças estalavam como as madeiras dos móveis na madrugada. As Balas Toff e o Diamante Negro indicavam a abastança de uns poucos; o drops Dulcora com as balas embaladas era o charme das meninas mais acanhadas e que riam - vermelhas - da própria timidez. Quanto ao resto, e aqui se inclui o cronista satisfeito, restavam as Balas Juquinha, Tamarindo, Frumelo, coisas dos que não conheciam o sabor de ter mesada. No entanto, nada disso tinha muita importância. Im portava mesmo era o desenrolar de papéis quebrando um silêncio de ouro; deixar o Lanterninha - que pena o apagar do seu nome na memória - doido a perseguir garotos como se fossem meliantes.
Se assistia aos filmes, não sei. A mágica era ter o domingo como quem carrega uma carta na manga. E agora, tantos anos decorridos, eu pude lavar essa teia dos olhos, justamente, com um sabonete eucalol saído dos armários das saudades sem preço.
Depois de ler a crônica de Cristina Nunes, uma lindeza.