Meu (Nada Querido) Diário - Final

10/04/11 - Domingo, 01h05m.

Consegui chegar em casa sem maiores problemas. O Metrô chegou na hora e veio rápido. Tanto é que o poema "Derrota" eu escrevi durante o trajeto também sem maiores problemas. Amém. O ônibus também apareceu rápido.

Eu estranhei quando me deparei com o portão aberto. "Provavelmente o Anderson tá rua", pensei. Mas ele não estava na rua. Estava no computador jogando alguma coisa imbecil. E com um amigo dele. Isso, em outras circunstâncias, me afetaria os nervos e minha primeira palavra seria o famoso "Chuvisca!" - que é meio que um "CAI FORA". Mas o menino me cumprimentou com uma cara meio que de medo e eu fui educado. Apesar dele não ser merecedor por ter cabelo sarará-crioulo e ter feito chapinha e também por usar camiseta com o logotipo do Batman em pleno Outono de 2011...

Fui direto pra cozinha ver o que tinha pra comer, afinal, eu estava há quase 24 horas com apenas dois punhados de cuscuz e quinze garrafas de cerveja no organismo.

Conectei a internet e tratei de resolver umas pequenas pendências, passei o "Derrota" a limpo e, já com a cabeça pesando duas toneladas por causa das ressacas seguidas e da inanição, resolvi ir dormir, lá pelas três e meia da manhã.

10/04/11 - Domingo, 04h05m.

Eu acordo com a luz acesa na minha cara.

10/04/11 - Domingo, 04h42m.

Eu acordo assustado com um aumento repentino do volume do videogame.

10/04/11 - Domingo, 05h23m.

Eu acordo com uma acalorada discussão sobre joguinhos japoneses.

10/04/11 - Domingo, 06h05m.

Daqui 24 horas terei que acordar pra ir trabalhar. Por enquanto, acordo porque eles acharam graça em alguma coisa e estão dando risada com a voz elevada.

10/04/11 - Domingo, 06h52m.

Eu acordo com barulho de descarga e de gavetas abrindo e fechando. Já é dia claro.

10/04/11 - Domingo, 08h38m.

Eu acordo pensando em levantar da cama, pegar uma peixeira, segurar os dois pela nuca e fazer a lâmina lamber-lhes o pescocinho. Contentei-me em enfiar a cabeça no vão entre a cama e a parede e torcer pra sofrer um infarto fulminante. Acabei cochilando.

10/04/11 - Domingo, 10h00m.

Não tem jeito. Acordei com todo mundo da casa conversando, com cada um em um cômodo. Aparentemente alguma coisa aconteceu comigo, já que não possuo mais a empáfia necessária pra soltar meus discursos corrosivos ou mesmo sucintos e certeiros palavrões pra fazer calar a boca de todo mundo. Fiquei de barriga pra cima durante longo tempo tentando não me irritar quando, na verdade, um acesso repentino de cólera seria a maneira mais eficaz pra inibir meus incômodos. Incrível como o errado está sempre ao alcance dos meus tentáculos.

10/04/11 - Domingo, 10h30m

Preciso falar que assim que levantei da cama a casa ficou vazia e silenciosa? Já acordei com aquela fome desgracida e havia apenas um mísero pão pra comer. Comi o troço enquanto decidia o que fazer da vida. Decidi descarregar no computador do meu irmão um vídeo que fiz da gente (Carnero e eu) descendo a Augusta no meio dos carros e colocar a parada no Youtube. A entrada USB da torre dele estava ocupada por um controle de videogame. Tirei o controle só que a entrada ficou misteriosamente torta. Tipo sumiu do buraco da torre. Enfiei uma tesoura dentro e puxei a maldita pra baixo e já enfiei o cabo da câmera. Enquanto esperava o video descarregar, fiquei apreciando o dia bonito que estava fazendo. Deixei o video fazendo o upload e liguei o meu computador pra ver se acontecia alguma coisa. Só que a internet caiu quando o video já estava lá pelos idos dos 50%. Coloquei pra subir novamente e terminei meu café da manhã corrigindo o nome dos arquivos que salvo os textos de acordo com os títulos que eu atribuo a eles.

10/04/11 - Domingo, 11h10m

Bom, o Gabriel, meu irmão mais novo, chegou e fechou a tela do Youtube pra ficar jogando Cafémania. Joguinho besta. Prefiro quando ele está jogando GTA. Vira e mexe eu passo pela sala onde o videogame fica e fico vendo a habilidade que ele tem em queimar pessoas, derrubar helicópteros, dar tiros de bazuca em restaurantes com mesinhas no exterior, roubar motocicletas, chutar cabeça de policiais e todas essas coisas belas da vida que não podemos fazer. Mas ficar vendo ele fazendo pastel de quiabo com pudim de groselha não me agrada.

10/04/11 - Domingo, 12h11m

Nada de novo no front. Começou a garoar e os planos de andar de skate e/ou fotografar no Ibirapuera foram por ralo abaixo. Por que deus vive dando descarga no que pretendo fazer? Só faço merda, é isso mesmo, produção? Como não teria mais nenhum jeito de salvar o dia, dei um mergulho na cama pra cochilar.

10/04/11 - Domingo, 12h20m

O Anderson chegou com dois amigos dele e sentaram no chão da sala que fica ao lado do meu quarto pra ficar jogando cartinhas de RPG. Claro, tive que levantar da cama e ir exercitar a minha catarse no Twitter. O que saiu foi mais ou menos isso:

"Essa juventude de hoje em dia está muito transviada. Mais viada do que transa. Nem era "transA", era "trans". Um erro de digitação que acabou dando certo. Ficam jogando cartas de RPG discutindo o poder de cada uma sendo que falar sobre a gostosa da sala ao lado, por exemplo, é mais interessante. Quando pular um córrego, empinar um pipa, jogar peão, fazer golzinho com os chinelos, assar batatas numa fogueira de esquina é tão melhor. Esses filhos da puta nunca furaram o pé num prego, estouraram uma caixa de correio com bombinha; parece que não se apaixonam, meros robôs. Não existem mais brincadeiras no coletivo; agora são dois controles de videogame traçando uma disputa. Quando não UM controle remoto de TV."

E o "Já comentei com a @notsokute que nunca que poderemos estudar filosofia ou coisas do tipo, já que somos tão nojentos mesmo na ignorância."

10/04/11 - Domingo, 15h34m

Só tinha minha mãe na sala assistindo algum seriado, pra variar. O almoço já tinha ido pro saco e o sono veio de forma arrebatadora. Além do mais, a internet ficou caindo de cinco em cinco minutos. A única coisa que sobrou de lazer dando falhas e nos também nervos. Resolvi ir dormir umas duas/três horinhas, colocando o relógio pra despertar às dezoito - depois eu iria levando no famoso "mais cinco minutinhos".

10/04/11 - Domingo, 16h01m

Eu acordo com uma pancada na perna. Meu irmão tentando arrumar a internet. Como ele não consegue, ele reclama. E grita pro amigo dele que está no outro computador, perguntando se a coisa voltou a funcionar. Finalmente tive meu chilique e, depois, dormi feito um bebê. Bebês acordam várias vezes durante a noite, né?

10/04/11 - Domingo, 19h03m

Minha mãe me acorda com muita conversa e nada de entendimento da minha parte. Sei que ela deixou um cartão de alimentação pra comprar pizza e (...)

*

Seguinte: a semana foi tão na correria e tão cansativa que eu acabei não conseguindo tempo e/ou paciência pra continuar com esse projeto (que, aliás, é mais um que eu começo e não termino). "Mas e esses outros dezesseis textos que estão entre a primeira parte do diário e essa aqui"? Bom, a maioria eu escrevi no celular nos metrôs cheios ou em filas de banco e passei pro computador sempre na última meia hora do expediente. Sabe como é, a inspiração vem e não dá pra falar "passa amanhã pois estou com o diário em mente". É uma pena, realmente, aconteceram bastante coisas desagradavelmente cômicas e poéticas no decorrer desses sete dias mas eu não consegui realmente recuperá-las e mandar pro bloco de notas. I'm sorry...

FIM.

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 17/04/2011
Reeditado em 17/04/2011
Código do texto: T2914288
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