AONDE NÓS VAMOS PARAR?

É dolorido ter que falar de coisas ruins que estão acontecendo no nosso Brasil. Mas, o nosso país está se transformando num cenário de guerra. Estamos caminhando para o caos total. A nossa sociedade se encontra desprotegida e, em muitos casos, esfacelada diante dos horrores aos quais ela está sendo exposta diariamente.

Estamos vivendo uma rotina cada vez mais estressante, na qual sabemos que precisamos sair de nossas casas – por sinal, hoje em dia, verdadeiras fortalezas -, mas não sabemos se iremos voltar sãos e salvos. A vida fora de nossas últimas defesas tornou-se uma loteria.

A violência urbana, motivada, muitas vezes, pela necessidade de se conseguir dinheiro para alimentar o vício da droga, está levando uma boa parte dos nossos jovens para as estatísticas dos homicídios. A desigualdade social, a falta de qualificação para o mercado de trabalho, a desagregação familiar e o desemprego – consequentemente, o ócio pernicioso – levam, também, uma boa camada da população a praticar contravenções que vão, aos poucos – e, também, aceleradamente –, se transformando em ações absurdas e cruéis voltadas para as pessoas que procuram trilhar o caminho da ordem e dos preceitos éticos.

Lembro-me bem dessas mudanças. Começaram, devagar, lá pelos anos 90, no seu início, e foram, aos poucos, tomando corpo, se fazendo notar em todas as camadas sociais.

O Estado, omisso, não se preocupou com essa nova desordem social. Talvez, na sua inoperância, achou que escondendo suas fragilidades e descontroles – como sempre fizera – conseguiria, mais na frente, tomar pé da situação. Enganou-se. A coisa tomou uma proporção tão grande que ele próprio se assustou. O poder paralelo passou a comandar onde ele não estava presente (morros, favelas, bairros periféricos) e se organizou de tal forma que, onde os homens de bem botam as mãos para tentar minimizar a situação, a podridão aparece. É a corrupção solta nas instituições públicas e cada um quer levar o seu quinhão do erário de todos nós.

Na educação, a figura do mestre era sinônimo de sabedoria, aconselhamento, conhecimento e, dentro de uma sala de aula, a sua palavra era respeitada. O educando sabia se comportar por que trazia de casa os seus valores morais e lhe eram ensinados os deveres e os direitos sem ser preciso que ele fosse advertido para isso.

Vi, muitas vezes, neste longo caminho, a figura do mestre ser desrespeitada, desmoralizada diante de seus pares. Jovens que outrora sabiam ser o conhecimento o seu passaporte para um futuro promissor, tornaram-se, com o passar desses anos, meros ouvintes ausentes, perversos diante de quem só está ali para ajudá-los. Até relatos de que armas foram encostadas às suas cabeças já ouvi de meus colegas de profissão.

Lá pelo início dos anos 2000, eu, numa reunião do corpo docente, chamei a atenção para o fim da autoridade do professor em sala de aula. Mostrei o caminho que estávamos trilhando, a nossa clientela, os agregados a eles (baixa estima, envolvimento com drogas, falta de perspectivas), as normas da escola sendo banalizadas, mestres indo parar em Conselhos para darem satisfações sobre o porquê de solicitarem à direção uma punição pelo mau comportamento de jovens; enfim, infelizmente acertei em cheio ao dizer que, em cinco anos, nós não daríamos mais aula sossegados. Isto, se neste ínterim ainda houvesse o aluno querendo, de fato, estudar. Felizmente, ainda tem. Poucos, mas tem. São aqueles que ainda não sucumbiram aos encantos do mundo ou que ainda conservam dentro de si a esperança de ver esse mundo livre dessa praga que está dizimando, avassaladoramente, quem ainda pensa que as coisas só acontecem com os outros e que o mundo é fácil de ser conquistado.

A violência impera. Outro dia, não faz uma semana completamente, um primo meu foi vítima de um assalto. Estava no seu comércio quando chegaram dois jovens e apontaram uma arma para a sua cabeça. Queriam dez mil reais. Como não tinha essa quantia, eles o chamaram de vagabundo, pilantra e disseram que ele ia morrer por estar tentando enganá-los, dizendo que não tinha a quantia exigida pela dupla. “Mata ele”, dizia um; “entre para debaixo do balcão para eu lhe dar um tiro na cabeça”, dizia o outro. E não era para intimidar, segundo o meu primo. Percebia-se em suas fisionomias o desejo expresso de dar fim a uma vida sem mais nem menos. Na verdade, o dinheiro já tinha sido entregue, mas o que, visivelmente, os caracterizava eram a violência gratuita, a obsessão por tirar a vida de uma pessoa e a fisionomia marcada pelo consumo de drogas.

Fico imaginando a cena a todo instante. Um cidadão de bem, pai de família, exercendo a sua cidadania e produzindo para o país é humilhado, colocado no chão sob ameaça de “mate logo esse vagabundo” e, hoje, está praticamente com o seu comércio fechado, pois não se sente mais seguro em estar no seu estabelecimento para conseguir o sustento para os seus.

Quinta-feira da semana passada, uma cunhada minha, pedagoga, estava numa instituição de ensino, no Alto da Conceição, quando chegou um rapaz do bairro Pantanal querendo entrar na escola para ir, acreditem se quiserem, resolver uma “parada de vida ou morte com um pilantra que está estudando lá dentro” – palavras dele.

Onde estava a segurança? Não estava. Melhor dizendo, não tinha vigia, não tinha porteiro e nem o diretor se encontrava no estabelecimento – apenas a supervisora e uma bibliotecária para enfrentarem/contornarem qualquer problema ou imprevisto que ocorresse.

Meu Deus! E nem quero falar do precedente da semana passada. Este sim, e se a mídia continuar com esse sensacionalismo todo, as consequências serão danosas... Tomara que não!



Obs. Imagem da internet



 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 17/04/2011
Reeditado em 18/04/2019
Código do texto: T2914125
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