CICATRIZES DA GUERRA

Não entendo como pode uma nação como a dos EUA permitir-se duma forma geral a viver uma situação de hipocrisia e de indiferença com relação a coisas que acontecem no mundo todo, desconsiderando com isso a mais elementar das regras de convivência entre os povos que é a de respeito à soberania alheia. Digo isso fazendo uma referência específica sobre a guerra do Iraque.

Como pode um homem que no caso é o presidente daquele país, George W. Bush, ter tanto poder nas mãos ao ponto de manipular a mídia e dizer que o citado país árabe possuía armas químicas e de provável destruição em massa, de tal modo que em retaliação ao ataque às torres do WTC em NY, invadiu o Iraque desestabilizando toda a estrutura duma nação, ainda que diferente da existente na sociedade ocidental, centralizada que é na “teocracia”, inadmissível para nós, porém completamente normal para eles? Mesmo que a teocracia exclua como de fato exclui as formas democráticas e o respeito às diferenças, os Estados Unidos tinham que servir de exemplo por serem o baluarte da democracia no mundo todo, o paradigma inconteste das garantias às liberdades individuais. Mas não foi isso que fizeram na manipulação hedionda da verdade estabelecida a bel-prazer daquele governante, cuja mentalidade expansionista não é mais nítida porque ele consegue dissimular bem suas mesquinhas pretensões.

O que espanta nisso tudo é que o povo norte-americano, enquanto a guerra se desenrolava, tinha pouca noção ou quase nenhuma do que realmente se sucedia. E paulatinamente soldados de vinte anos de idade, designados por obrigação de defender a pátria eram atirados como os cristãos à arena na Roma antiga, enfrentando as hostilidades e o ódio de um povo que não os aceitava como invasores na tentativa de impor uma nova ordem num conluio selvagem e mal-elaborado com os supostos representantes de várias camadas da sociedade iraquiana, corruptos e sanguinários que na realidade queriam enriquecer às custas da distribuição do país às empreiteiras loteadas para a reconstrução do mesmo depois de bombardeado e quase totalmente destruído, inclusive pelas bombas das facções religiosas que não se entendem e que buscam a solução pela força, ostentando a máxima de aniquilação total dos opositores para depois discutir procedimentos de reorganização.

Somente depois de muitos soldados americanos retornarem ao seu país de origem, após cumprirem certo período de tempo no Iraque, substituídos por outras levas de homens preparados para a guerra, é que a cortina de fumaça começou a ser desfeita.

Ao voltarem pras suas casas, muitos mutilados, sem braços, ou pernas, ou sem um olho, ou com surdez parcial ou total em decorrência das explosões, começaram a se questionar a fundo do porquê de terem ido àquele país lá do outro lado do mundo, movidos por uma propaganda que, depois de certo tempo convivendo no Iraque, observaram que a mesma era enganosa, mentirosa e não tinha razão de ser. Contavam nos dedos os dias que faltavam para terminar seu tempo de serviço nas Forças Armadas e voltar logo para os EUA e tremiam de medo de ter que enfrentar uma batalha de última hora, ou cumprir uma ordem militar sob suspeita, antevendo que não sairiam vivos da missão, ou com problemas físicos de mutilação, porque o povo iraquiano lhes tinha uma ira que superava todas as formas de aferição psicológica e sociológica.

Ao retornarem para a América, quando não em caixões funerários, os que sobreviveram com seqüelas de várias naturezas, se viram com intensas dificuldades de se readaptarem ao convívio social, sendo abandonados pelo governo, e os pobres coitados viviam vegetando como cães sem donos, sem entender como foram enganados, como foram ser massa de manobra política para atingir o objetivo de grupos oligárquicos que, mancomunados com o governo Bush, nada mais nada menos queriam mesmo era apoderarem-se das reservas de petróleo existentes em grandes quantidades naquele longínquo Iraque. E isso lhes deixava em profunda depressão existencial, pois as barbaridades que viram e praticaram em nome de uma democracia jamais deveriam ter sido feitas.

Deram-se conta eles disso, a maioria dos que retornaram e viram que em solo pátrio, foram tratados como seres de segunda categoria, quando tentaram readaptar-se à vida civil. Entretanto isso foi e está sendo muito difícil, sendo que muitos soldados buscam o suicídio para livrarem-se das imagens que lhes atormentam, gerando-se com isso, um quadro de revolta coletiva e que vem à mídia, finalmente antes tarde do que nunca, denunciar a farsa dessa guerra.

É uma lástima que só assim nessas condições apareçam as cicatrizes de uma guerra suja, quando tantas injustiças poderiam ter sido evitadas, dos dois lados, assim como baixas humanas que ocorreram e que nunca mais serão reparadas porque não tem simplesmente como sê-lo.

Sobra uma lição como tantas outras que a história nos mostra, mas que insistimos em repetir como erro atrás de erro, mudando apenas as personagens, e os responsáveis passarão incólumes pela vida dando risadas sarcásticas sem o mínimo de peso em suas consciências, porque, com certeza, isso é o que eles não têm.

As cicatrizes da guerra não deveriam existir, aliás, nem tampouco as próprias guerras, contudo enquanto formos levados pela ganância, pela indiferença, pela intolerância e pelo sectarismo em todos os sentidos, as ideologias, sejam quais sejam, preponderarão sobre o fato filosófico em si na mais plena e pura acepção do termo, em prejuízo à paz na Terra aos homens de boa vontade, e que são poucos, pois que não são manipuláveis como a grande plebe rude ignorante. Talvez as feridas expostas jamais sejam curadas já que as cicatrizes, indissolvíveis, tendem a não desaparecer.

Djalma

Em: 04-JUL-2007

Djalma
Enviado por Djalma em 17/04/2011
Código do texto: T2913638
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