Arroubos insensíveis da juventude...

Definitivamente vivemos uma época em tudo diferenciada...

Já ouvi citações caminhando na seguinte direção relativamente ao assunto velhice: “Começamos a perceber que estamos ficando velhos quando sentimos saudades do passado...”.

Porisso, há de se convir que realmente quando nos deparamos com certas situações, procedimentos, atitudes, tratamentos em nosso dia a dia atual, em que pese não sermos assim nenhum 'Matusalém', nos sentimos como se assim fossemos e literalmente, temos saudade de nosso passado...

Sem que houvesse qualquer regime ditatorial, qualquer regime militar e outros 'que tais' que os mais afoitos denotam como razões principais para que os bons comportamentos, a gentileza, o modo de se portar e de agir com que a grande maioria dos mais antigos procedem, assimilamos tudo o que foi anteriormente mencionado, de uma forma branda e carinhosa!

Lembro-me perfeitamente bem (até parece que foi ontem... como dizia o excelente e falecido humorista Ronald Golias quando interpretava um de seus personagens...) que quando, devidamente sentados e quietos em sala de aula, havia o adentramento nela de alguém estranho (no sentido de não fazer parte do contexto momentâneo do evento-aula que estava sendo ministrada), que poderia ser de uma simples faxineira da escola até o próprio diretor do estabelecimento de ensino, passando por progenitores, outros professores, funcionários da secretaria, etc., imediatamente e sem que para isso houvesse qualquer ordenamento, nos ficávamos em pé junto de nossas carteiras (nome dado as mesinhas nas quais estudávamos) e só nos sentávamos quando devidamente autorizados pela pessoa que adentrou sala ou pelo professor(a) presente.

Como exemplificação de uma modernidade, para muitos superior aos nossos velhos tempos, lanço mão de episódio ocorrido durante a última sexta-feira (15/04/2011), onde denotei certa semelhança (para pior...) de ocorrência análoga àquela que acabei de citar.

Há algum tempo, uma de nossas MESTRAS teve de ausentar-se das aulas (sempre há uma dobradinha...) que nos ministraria em um dos dias da semana. Como trata-se de uma das matérias carro-chefe do semestre em curso, são ministradas quatro aulas semanais, divididas em dois dias da semana, duas aulas em cada dia. No prosseguimento comum do ano letivo, no próximo dia destinado as suas aulas, normalmente compareceu a MESTRA para a devida ministração. Dentre outras coisas, explicou sua ausência dizendo tratar-se de um problema ocorrido com seu genitor acarretando com que ela fosse acionada o que prejudicou sua estada na Universidade para a devida ministração das aulas que lhe eram devidas.

À guisa de complementação para composição de minha citação, tenho de acrescentar que a referida jovem MESTRA, com antecedência, já havia estipulado data para a realização de uma avaliação correspondendo aos estudos feitos até aqui no semestre letivo.

A 'coisa' estava transcorrendo normalmente até a última sexta-feira, que foi exatamente o dia designado para a aplicação da avaliação anteriormente marcada e acima referida.

Logo no inicio das aulas, para ser mais explícito, no inicio da primeira 'dobradinha' de aulas ministradas por nosso outro MESTRE, adentrou a sala de aula a responsável por um núcleo da Universidade que trata dos relacionamentos que são efetuados entre os alunos dos últimos anos de curso, sendo ela subordinada à MESTRA que nos aplicaria a avaliação nas duas aulas subsequentes.

Com semblante denotando muita seriedade e preocupação, a jovem informou que a MESTRA havia enfrentado um problema grave e que com isso não poderia comparecer para ministrar as aulas seguintes de sua competência.

Foi aí que, abismado, pude ver e ouvir uma das maiores manifestações de falta de senso e, para ser no mínimo educado, falta de educação com o sentimento de nossos semelhantes.

Em sua maioria, os jovens e algumas senhoras nem tão jovens assim, vibraram intensamente com a ausência anunciada! Foi algo assim como se o seu time de coração houvesse marcado um gol que valesse um título de campeonato importantíssimo!

Quedei-me em minha posição, não querendo crer naquilo que havia presenciado e, ainda estarrecido, vi quando a responsável pelo núcleo deu meia-volta retirando-se da sala ainda sob o vibrar da noticia que havia transmitido.

No alto de minha 'velhice' ainda pude aquilatar o que, pelo menos para mim, o porquê daquela manifestação de galhardia e contentamento haver ocorrido: Em primeira instância, a protelação de uma avaliação que havia sido anunciada de há muito e que tinha dado possibilidade de um bom preparo a todos e, em segunda instância, a constatação de poder-se ir embora mais cedo (ou ficar na lanchonete do andar térreo,como é prática comum de alguns que nem em dia normal de aula permanecem no interior da sala de aula...), emendando um dolente final de semana!

Por outro lado, meu lado aquilatador mais distêmico, insistiu em solidarizar-se com a MESTRA, que sob a expressão de sua responsável pelo núcleo, certamente deveria estar enfrentando momento de extrema dor com seu ente querido.

Ficou patente, pelo menos sob minha ótica, de que aquela inoportuna demonstração de júbilo pela ausência de nossa jovem MESTRA, causou enorme comoção e um não entendimento racional por parte daquela que nos anunciou o fato.

Dessa forma, permiti-me escrever esta crônica-desabafo, no sentido de procurar estabelecer um paralelo de procedimento comportamental entre o que vivi em minha tenra idade e o que vivo agora em minha 3ª idade!

Então, se valer o dito que coloquei no inicio desta, efetivamente e sem qualquer medo de ser feliz, ESTOU BASTANTE VELHO!

P.S.:

À nossa jovem MESTRA minhas sinceras condolências pois, no período vespertino, endereçado pelo Gestor do nosso curso, recebemos comunicado relativo ao passamento do seu genitor!

HICS
Enviado por HICS em 16/04/2011
Código do texto: T2913091
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