OCACIR MARTINS MEU PAI

By: martinsmluiza

ago 16 2007

Category: Diário de bordo OCACIR MARTINS

MEU PAI

Hoje você faria cento e sete anos se fosse vivo. Agora tem gente que vive muito assim, pelo menos oitenta como a Rosa, oitenta de nada, de besteiras, de incompetência, de egoísmo de nunca ter valido pra nada.

Quase nem penso ou lembro-me de você, ocupada em viver.

Desculpe, mas isto é natural. Agora, quando você me vem à mente, coração e alma sabem como te vejo? Sempre bonito nos seus quarenta ou cinqüenta anos, vestido com aquele terno de linho branco e paletó aberto ao vento, chapéu de panamá, com aquele andar de Visconde de Rio Branco, cheio de charme e despreocupação, malicioso, alegre, comunicativo com os passantes na rua ou no seu caminho.

Você sempre inventava algum papo interessante, alguma atitude absurda de bom humor. Sabe? Tenho muita coisa parecida assim como você. Não to nem aí para o que os outros possam pensar de mim. Curto cada momento de viver, em geral com prazer. No meio da rua, se estou em paz ou alegre demais, eu danço uma música que o proprio corpo cria. Rio e sorrio e vou indo. E se for hora triste, eu não espero para ficar triste ou chorar, fico logo, ali, na cara.

Lembra? Nós dois sentados no meio fio do Piabanha, em frente da Catedral de Petrópolis? Acho que ainda havia hortênsias azuis nas margens. O sol forte do dia batendo sobre nós dois, a gente filosofando ali descontraidamente, e você expôs o braço arregaçando a manga da camisa e mostrando a carne, pele e músculos sadios, fortes e firmes e dizendo do seu espanto diante da vida! Que você já tinha mais de setenta anos, e você se sentia tão jovem tão quarenta anos! Nós dois constatando ali que ser velho não era aos setenta, que aquilo era um absurdo, pois você era mais jovem do que o fora nos seus quarenta passados. Eu também vi isso com espanto. Você não tinha nada de velhice, só idade cronológica incompatível.

A vida é mistério Pai, não nos compete descobrir os mistérios. O mistério que não é do nosso alcance saber, a gente tem mais é simplesmente parar e aceitar. Ou deixar pros filósofos estudarem ou pretenderem entender. Coisa sabida é viver a vida, que é dádiva cada dia que se tem. Mesmo que as coisas não andem como sonharíamos, mesmo assim viver é tudo de bom.

Eu estou só querendo te prestar uma homenagem.

Bateu uma saudade, acho. Nosso papo era tão bom. A gente só falava verdades.

Eu nunca te chamei de QUERIDO PAI, havia tanto rigor mineiro. Mas quando eu falava Pai! Era o mesmo que estar dizendo “querido pai eu te amo!”

Pai é uma palavra muito bonita. Sabe Pai, o meu filho Gabriel se casou no cartório, dia 12 de abril de 2011, Seu neto, que você não conheceu. É o caçula dos seus netos. É lindo e bom, estava na maior felicidade. Ele lembra seu belo rosto. Só que é altão, não era baixo como você. Mas eu sempre te achei o homem mais bonito da terra.

Era puro amor, não é Pai?