Ouvir a vida
Os monges de todas as religiões são unânimes em afirmar que se deve falar somente o necessário, entre outras vantagens a de se evitar ofender ou magoar alguém. Não se trata de falar pouco. Na visão monástica trata-se de falar o indispensável.
A quantidade a ser falada é consequência. Muitas vezes não se fala nada e se diz tudo...Outras vezes se ouve pouco e se entende muito... E tem aquelas ocasiões em que se fala demasiado.
Faz parte indispensável do meu amanhecer diário a bulha dos passarinhos em minha janela. Os pardais, o bem-te-vi alegre, cantando solto, pulando os galhos do flamboyant que teimam invandir a sala de jantar. É um presente da ternura de Deus ter uma árvore cujos galhos mais altos você pode alcançar com as mãos e acompanhar seus movimentos no vento, numa brisa variante e fresca! Uma árvore que foi semente presente de um amor... Uma vez o bem-te-vi fez seu ninho bem ali e acompanhei de perto o seu zelo e trinados.
No amanhecer gosto também de ouvir a voz que me faz bem, que me quer bem.
Gosto de ouvir o som da vida, o som que vem da cozinha, o som do aprendizado de amar com placidez.
Gosto de ouvir... a música que gosto, a música e o som, a música e o tempo, o som do tempo que passa.
Ah! o tempo! Um dos segmentos mais importantes do tempo é a troca, o dar e receber atenção em troca. Simplesmente ouvindo...
Ouça a vida com atenção.
Porque ainda vamos sentir saudades de hoje.