Saudade de ser meus olhos fechados
Tem horas que fico sozinho no quarto, olhando para o teto. Sem querer ouvir nada, ou falar nada ou sentir nada. Ali. Deitado sem movimentos. Somente eu com meus pensamentos. É ali, que devaneio os meus mais impossíveis sonhos.
Naquele momento eu posso tudo. Eu sou o super-herói, o vilão e o coadjuvante que se faz importante para o final da história. Posso querer tudo. Posso querer voar, ultrapassar paredes, falar palavrão sem ninguém me repreender, gritar do alto de uma montanha. Querer.
Mas é ali também que me sinto a menor das criaturas. Aquele que sente dores, aquele que tem medo do escuro e que poucos sabem. Poucos sabem. É incrível e inacreditável que ali naquele instante eu não precise usar máscaras para ninguém. Ninguém precisa me entender ou me julgar. Deitado na cama sem piscar, eu não preciso mostrar felicidade, só preciso ser a mim mesmo para mim mesmo. Não é depressão, não é tristeza é apenas reflexão.
No meu quarto eu posso ser todos no mundo. Posso ser o empresário bem-sucedido que conseguiu muitas ações na bolsa de valores e está mais rico do que nunca e vai poder viajar para o mundo todo, mas sem a família que sempre o atrasou e envermelhou sua conta bancária. Não parece, mas ele sofre. Ou o ator de stand-up que fez a piada e todos riram, mas que naquele instante no palco, ele não tem a vontade de estar ali. Ele também sofre. Posso ser a diarista que vai de ônibus todos os dias e limpa a casa ouvindo desaforos, mas faz com esmero de seu trabalho com cara feliz e coração triste necessitada de seus centavos. Posso imaginar-me como a criança que ficou no farol a mando do pai alcoólatra e que hoje dorme com fome porque as poucas moedas que conseguiu, seu pai as roubou para degustar a cachaça dele de cada dia.
Acredito ser ali naquela cama a pior e a melhor de todas as criaturas.
Fujo de ser quem eu apenas sou. Uma espécie cheia de erros e pecados, risos e vitórias, amigos e colegas. Perfeito na imperfeição aos olhos de muitos. Sorriso e favores aos olhos de outros. Adulto infantil aos olhos de alguns. E ser humano aos olhos de todos.
Por mais que eu fuja da doce realidade deitado ali o tempo passa e as pessoas chamam. Tenho vontade que o dia venha, tenho medo que o despertador toque. E quando isso acontece, mais uma vez choro pelo desejo de fechar os olhos novamente e ser os seres certos e errantes que todos somos. Capaz de mentir sonhos irreais e dignos da felicidade sonhada e distante.
Deitado no suor dos meus lençóis imagino que o mundo pode ser gentil em parar por um segundo para ouvir meus pensamentos. Ali eu sou o universo e o grão de areia. Sou quem eu quiser e isso ninguém pode me negar à felicidade de não ser.
SP. 14/04/11 --- 23:52
Tem horas que fico sozinho no quarto, olhando para o teto. Sem querer ouvir nada, ou falar nada ou sentir nada. Ali. Deitado sem movimentos. Somente eu com meus pensamentos. É ali, que devaneio os meus mais impossíveis sonhos.
Naquele momento eu posso tudo. Eu sou o super-herói, o vilão e o coadjuvante que se faz importante para o final da história. Posso querer tudo. Posso querer voar, ultrapassar paredes, falar palavrão sem ninguém me repreender, gritar do alto de uma montanha. Querer.
Mas é ali também que me sinto a menor das criaturas. Aquele que sente dores, aquele que tem medo do escuro e que poucos sabem. Poucos sabem. É incrível e inacreditável que ali naquele instante eu não precise usar máscaras para ninguém. Ninguém precisa me entender ou me julgar. Deitado na cama sem piscar, eu não preciso mostrar felicidade, só preciso ser a mim mesmo para mim mesmo. Não é depressão, não é tristeza é apenas reflexão.
No meu quarto eu posso ser todos no mundo. Posso ser o empresário bem-sucedido que conseguiu muitas ações na bolsa de valores e está mais rico do que nunca e vai poder viajar para o mundo todo, mas sem a família que sempre o atrasou e envermelhou sua conta bancária. Não parece, mas ele sofre. Ou o ator de stand-up que fez a piada e todos riram, mas que naquele instante no palco, ele não tem a vontade de estar ali. Ele também sofre. Posso ser a diarista que vai de ônibus todos os dias e limpa a casa ouvindo desaforos, mas faz com esmero de seu trabalho com cara feliz e coração triste necessitada de seus centavos. Posso imaginar-me como a criança que ficou no farol a mando do pai alcoólatra e que hoje dorme com fome porque as poucas moedas que conseguiu, seu pai as roubou para degustar a cachaça dele de cada dia.
Acredito ser ali naquela cama a pior e a melhor de todas as criaturas.
Fujo de ser quem eu apenas sou. Uma espécie cheia de erros e pecados, risos e vitórias, amigos e colegas. Perfeito na imperfeição aos olhos de muitos. Sorriso e favores aos olhos de outros. Adulto infantil aos olhos de alguns. E ser humano aos olhos de todos.
Por mais que eu fuja da doce realidade deitado ali o tempo passa e as pessoas chamam. Tenho vontade que o dia venha, tenho medo que o despertador toque. E quando isso acontece, mais uma vez choro pelo desejo de fechar os olhos novamente e ser os seres certos e errantes que todos somos. Capaz de mentir sonhos irreais e dignos da felicidade sonhada e distante.
Deitado no suor dos meus lençóis imagino que o mundo pode ser gentil em parar por um segundo para ouvir meus pensamentos. Ali eu sou o universo e o grão de areia. Sou quem eu quiser e isso ninguém pode me negar à felicidade de não ser.
SP. 14/04/11 --- 23:52