Caduceu e Bastão

CADUCEU E BASTÃO, EIS UMA GRANDE CONFUSÃO.

Asclepíades Alves Campos.

Já tive a oportunidade de ler, algumas vezes, sobre a questão do símbolo da medicina e do comércio, e o nome que envolve esse binômio chama-se Caduceu, que nada mais é senão um símbolo para identificar algo, por exemplo, o que tratamos acima, a medicina e o comércio. Os dicionários de vários autores definem os símbolos como aquilo que representa alguma entidade ou alguma coisa, seja ela concreta ou abstrata, tudo isto por um princípio de analogia, num determinado contexto. A balança é o símbolo da Justiça, a cruz é o símbolo do cristianismo, o sol o símbolo da vida, a suástica o símbolo do nazismo de Adolf Hitler e assim por diante.

Arnold S. Relman, editor da famosa revista The New England Journal of Medicine, em seu editorial comemorativo ao volume 300 da revista aludida, refere-se ao seu símbolo, o bastão de esculápio cruzado com uma pena, como the crossed quill and caduceus Seal. Uma quantidade de cartas de médicos americanos e de outros países chegou à redação para reclamar da confusão feita com o bastão de Esculápio e o caduceu de Mercúrio.

A confusão entre o bastão de Esculápio e o caduceu de Mercúrio é antiqüíssima e existe desde a Renascença. O bastão de Esculápio com uma serpente enrolada sempre foi o símbolo da atividade médica. Em 1919 a American Medical Association e em 1956 a World Medical Association o adotaram como seus símbolos. Segundo alguns renomados escritores o caduceu é mais antigo que o bastão de Esculápio e sempre esteve relacionado ao comércio. De onde vem esta confusão entre os dois símbolos? Esta confusão tem procedência milenar, deste quando o povo de Israel saiu do Egito em direção a terra de Canaã passando pelo deserto de Zim, que fica no Sul da Palestina. Os historiadores não têm-se voltado para a parte bíblica, que é a mais importante por tratar-se da palavra de Deus. Preferem relatar mais sobre a mitologia grega, que não tem, nem de leve, veracidade como a palavra de Deus. Para esclarecer mais profundamente sobre a questão focalizamos o texto sagrado seguinte: “ E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito, para que morrêssemos neste deserto? Pois aqui nem pão nem água há; e a nossa alma tem fastio deste pão tão vil. Então o Senhor mandou entre o povo serpentes ardentes, que morderam o povo; e morreu muito povo de Israel. Pelo que o povo veio a Moisés, e disse: Havemos pecado, porquanto temos falado contra o Senhor e contra ti, ora ao Senhor que tire de nós estas serpentes. Então Moisés orou pelo povo. E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste: e será que viverá todo o mordido que olhar para ela. Moisés fez uma serpente de metal, e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal , e ficava vivo.” (Números 21:5-9). O pão tão vil, referido no texto bíblico acima, era o maná que caia toda manhã.

O caduceu era, originalmente, uma haste de ouro com asas em sua extremidade. Segundo a mitologia, Mercúrio lançou-o entre duas serpentes que lutavam entre si, e estas se entrelaçaram na haste numa atitude amistosa. Daí o seu aspecto conhecido. Por ser Mercúrio, também, deus dos comerciantes, o caduceu tornou-se o símbolo do comércio. A lenda, sobre Asklépios ou Esculápio, data de 700 anos AC, foi relatada por Hesíodo; mas não há confirmação dessa data, pois o descrito no Pentateuco, conforme retro-mencionado, não nos deixa seguros desta afirmação mitológica.

Pelo exposto, observamos que a serpente enrolada numa haste (bastão) foi coisa determinada por Deus, relacionando-se com o processo de cura, que se adéqua profundamente com o exercício da medicina. Apesar da mitologia grega não possuir a credibilidade da Bíblia Sagrada, que é a palavra de Deus, mas o assunto aqui tratado tem conotação mitológica, e, portanto, não podemos eximir-nos de focalizá-lo, em certas partes, sem nos referirmos à mitologia. Havia uns templos em Cós - os Asclepeions - que eram assim chamados fazendo referência e honra ao nome de Asclépio (Esculápio), considerado deus grego da medicina. Nos Asclepeions (hospitais) praticavam sacerdotes-médicos, que eram denominados de Asclepíades, descendentes diretos de Asclépio, cuja mais proeminente figura viria a ser Hipócrates (460-370 a.C.), considerado pai da medicina e autor do famoso juramento que todos os médicos conhecem. Asclepíades o mesmo que Asclépio, considerado deus da cura, é frequentemente representado sentado, vestindo um manto longo com o tórax exposto portando um cajado com uma serpente como o símbolo da medicina. Este símbolo é muito confundido com o símbolo de Hermes e Mercúrio, que é representado por duas cobras enroladas num bastão. Pois bem, este símbolo não representa a medicina, representa o comércio, razão pela qual a farmácia tem-no como seu símbolo, porque ele é meramente comercial. Por influências de pessoas invejosas dos médicos que comparavam a medicina a um comércio, devido á origem do nome e atitudes irregulares de Hermes e Mercúrio, que algumas vezes agiam e interferiam na vida dos deuses e dos homens como um verdadeiro mau caráter. Esta semelhança dos símbolos criou até mesmo uma confusão na imagem dos médicos, nascendo uma enorme injustiça com a mais nobre das profissões exercidas pelo ser humano. O Asclepíades, como deus da cura, tornou-se famoso, e, segundo a lenda curou mesmo muita gente, de sorte que, em algumas literaturas, como na Ilíada de Homero, são relatadas algumas orações em termos de agradecimento, conforme vemos a seguinte: “ Ó Asclépio, ó desejado, ó invocado deus, como poderei, pois, deslocar-me ao teu templo, se tu próprio não me conduzires a ele, ó invocado deus que excedes em esplendor o esplendor do campo na primavera? Esta é a oração de Diofanto. Salva-me, ó caridoso deus, salva-me desta gota pois só tu o podes fazer, ó deus misericordioso, só tu, na terra e no céu. Ó piedoso deus, ó deus de todos os milagres, graças a ti estou curado, o deus santo, ó bendito deus, graças a ti, graças a ti Diofanto já não caminhará como um caranguejo, mas terá bons pé como foi de tua vontade.”

É muito comum procurarmos no comércio, em todo o Brasil, um presente para médico, em cujo objeto deva ter o símbolo da medicina e só encontrarmos objetos como chaveiros, carteiras, marcadores de páginas e tantos outros, contendo o símbolo do comércio, ou seja o caduceu com duas cobras enroladas no bastão, ao invés de uma única cobra enrolada no bastão, que é o verdadeiro símbolo da medicina. Já li, há muito tempo, uma reportagem na revista Veja, tratando deste mesmo assunto, mas vejo que os fabricantes de vários produtos, juntamente com os comerciantes não tem atentado para este problema. Com esta crônica, espero ter contribuído para diminuir a confusão existente entre os dois símbolos

Humildemente, dedico esta crônica, à excelente classe médica de Feira de Santana, como homenagem deste simples e humilde cronista, e assim o faço, nas pessoas dos médicos meus amigos e conhecidos, quais sejam Dr. Ebenézer Públio Pereira, Dr. Hermelino de Oliveira Neto, Dr. Rogério Silva Sacramento, Dra. Ana Maira Andrade, Dr. Marcos Vinicius Miranda dos Santos, Dr. Maurício Oliveira Leite, Dra. Rúbia Mara Correia Campos Silva, Dra. Mariene Matos Barreto, Dr. João Vacarezza, estes representam, para mim, os demais médicos que ainda não tive a honra de conhecer pessoalmente, mas os homenageio com esta crônica, que considero de certa importância para conhecimento da classe médica.

Asclepíades Alves Campos é funcionário federal aposentado.

Ex-diretor de Divisão do D.N.O.C.S e membro efetivo da Academia

Poçoense de Letras – APOLO. .

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Asclé
Enviado por Asclé em 14/04/2011
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