Preciso voar!
E assim segue arrepiando os caminhos a menina que partiu sem destino. Ela entra no café seguinte e espalha o que tiver a mão, desde amor ao perfume sem cheiro, daqueles que sempre lembramos na memória que nunca descortina se é de Rosmaninho ou Bergamota mas é cheiro... e vai seguindo no seguinte para caminhar caminhando sempre em frente e adiante além nas curvas do caminho do tempo sozinho...
E assim larga o nome numa esteira de vime das tardes solarengas e tropicais, o velho amaina o cigarro de barbas de trigo num assobio. E ela condena o sono ao desbarato.
Os seus olhos de um negro fuligem alcançam o meu olhar que não se cansa de desviar, e do lado trejeito, o teu beijo ouso inventar porque inventar é um colirio nas horas tardias do poente e queimo as barbas do meu sentir no teu abraço pelo secado e vindo do tempo: faz calor!
Ah lembrei de ti numa vaga de saudades das minhas extemporaneidades dos meus afazeres diários. Soluço um gorgolejo de fome, seco uma garganta num soluço, entalo um gole de saliva num trejeito de um quase choro e vejo-te adiante do topo da esquina bordando as almas solitárias ali onde tu dizias em tempos: "meu amor!"
Mas tu partiste naquele estilo de pioneira exploradora, disseste-me que ias ver o mundo e espalhar o teu perfume pelas cercanias e pelas bordas do mundo, amas o tempo solteiro nas tua mãos e escreves em poesia o nosso amor, sei que longe vais nessa polaridade estelar, sei que o tempo segue sendo o nosso momento, sei que o amor de amor é nunca terminus porque os grandes amores tem esses lindos ramalhetes e percalços de nunca estarem completos e acabados.
A estrada levanta a poeira vermelha das terras equatoriais, o meu destino navega para Norte. A cidade cambaleante em mim me chama pois aqui neste lugar fiquei morto no teu amor de um jeito que só eu sei sentir.
Os aviões passam-me por alto e os barcos navegam no mar, eu quis ser caminhante a tua beira mas tu não me quiseste de orla e esteira, porque me disseste: "amor parto numa jornada de cheiros, café e alegria e a ti prefiro não levar; ou melhor sempre te levar no meu coração, como a imagem mais bela de todas, e a única que amei."
A carta vinha amarrotada num timbre de quem já havia circulado de mão-em-mão muitas e inúmeras vezes, o lado direito uma franquia sem remetente, dentro uma tira de papel gritante aos meus olhos lacrimejados, no lugar do mar uma brisa e a estrada levantava a poeira desses países equatoriais.
Dizia assim:
A ti amo... em ti amei... por ti fui... e aqui morri...
Preciso voar... e o lugar mais belo que encontrei foram as Cataratas Vitória... Voei!!
Acordo do sonho malparado estou na minha cama deitado, tu és o pensamento varrido numa faisca eu tremo de paixão e equidade desse amor sadio, bandido, fugidio, intemporal... Vejo-te no mesmo lugar do estacionamento chorando nessa manhã, vejo-te ali onde eu te deixei. Eu fui porque te amar é demais, e tu nas cataratas do meu sonho me disseste: "Voei!"
No reverso do mundo há vida: desapeia agora ou sai nunca!
Paulo Martins