FILHO FEIO NÃO TEM MÃE!

Meus dois filhos de 24 e 23 anos têm me dado muitas alegrias. O primeiro me dará a honra de assistir à defesa de “Cartografia das Almas: imagem ameríndia e a estética da não-representação”, sua irretocável dissertação de mestrado em Antropologia, no próximo dia 29 de abril de 2011, na Universidade Federal Fluminense.

O segundo é bacharel em Direito e recentemente defendeu brilhante monografia, propondo soluções alternativas para a transformação do ser humano, para além do caráter punitivo do Direito.

Minha felicidade vem muito mais daquilo que eles se tornaram, do que propriamente da vaidade de poder dizer que eles são meus filhos. Até por que acredito que a educação de um ser humano é feita por muitas mãos e, sobretudo, por aquelas que plantam as bases. Então, esses filhos “bonitos” têm muitas "mães": o pai deles, além das “tias” queridas que pacientemente os instruíram e educaram no Cristo Rei.

Conosco e com elas eles aprenderam 04 coisas direitinho: que o ser humano é muito mais do que a aparência, que as coisas são efêmeras, que nossa “finitude” é inevitável, e que nosso papel é melhorar o mundo. Eis por que seus investimentos não são em nada que satisfaçam apenas os olhos dos outros, mas em coisas que refinam suas almas: livros e cultura.

Estes dois parágrafos acima, de certa forma, servem para eu confirmar o que se deduz do inverso de um ditado popular: Filho “lindo” tem pai, mãe, irmãos, tios, primos, avós, professores...!

O real sentido do ditado a que me refiro também é verdadeiro e antes de anunciá-lo, levantarei alguns pontos sobre um cidadão de 23 anos, que se chamava Wellington Menezes de Oliveira. Na manhã do dia 07 de abril de 2011, ao que parece, ele surtou e resolveu adentrar a Escola Tasso da Silveira, em Realengo, Rio de Janeiro, portando 02 revólveres, 02 carregadores speed e munição suficiente para tirar a vida de 12 adolescentes, ferir outros tantos e suicidar-se.

Pesquisas me informam que sua mãe biológica era esquizofrênica, que sumia de casa e que quando aparecia, estava maltrapilha e às vezes grávida. Foi numa dessas vezes que ela o concebeu, mas não o criou, preferindo dá-lo para uma parenta sua. Vizinhos dizem que ele cresceu ouvindo detalhes sobre os problemas psiquiátricos da mãe biológica e chacotas de que ele fora gerado dentro de um manicômio.

Dizem que, quando criança, ele costumava desviar o olhar e abaixar a cabeça ao passar pelos vizinhos, que nunca participava das brincadeiras de rua, e que só se aproximava do campinho de areia cercado por grades enferrujadas, em frente a casa, para assistir, nunca para jogar.

Na escola, tinha apenas um amigo, chamado Bruno, com comportamento semelhante ao seu. Não faltaram colegas e professores para presumir que ambos eram homossexuais. Segundo o seu Diretor, Wellington era um “aluno invisível” e muito introvertido. Para os colegas ele era o rejeitado pela turma, exatamente por ser esquisito, diferente. Um ex. colega afirma que as meninas da sua época de estudante, “fingiam que davam bola para ele. Simulavam que iam ficar com ele e depois mandavam-no ir embora. Tudo para ridicularizá-lo".

Na juventude, quando começou a trabalhar, só mudava o itinerário diário para ir à igreja evangélica Testemunha de Jeová, com os pais adotivos. Na época, usava calça social, camisa para dentro e uma maleta, onde carregava livros evangélicos. Como trabalhador, apesar da apatia, nunca faltou ou chegou atrasado ao serviço. Nunca teve desentendimentos com ninguém e nunca levantou a voz para quem quer que fosse.

Não sei se nada disso que pesquisei é realmente verdade, e ressalto que não pretendo desculpar os seus atos abomináveis. Na condição de educadora, porém, vendo o desenrolar dos fatos, percebo que, numa corruptela do ditado verdadeiro, “ninguém quer ser “mãe” de filho “feio””: nem os seus irmãos, nem os professores, nem os ex.colegas de escola, nem os ex.patrões, nem os ex.professores, nem a igreja, nem o psiquiatra... Ninguém!

Talvez as grandes perguntas sejam: a) Há como nascer “feio”? b) O que contribui para que alguém se torne “feio”? c) O que pode ensejar que alguém fique “bonito”? As respostas talvez evitem que outros “feios” se espelhem nos atos daquele que entrou horrorosamente para a história brasileira.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 14/04/2011
Reeditado em 14/05/2012
Código do texto: T2909077
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