Inocentes Cuidados

Havia um casal que tinha um único filho, a quem dedicava todos os cuidados, 24 horas por dia. Era o verdadeiro xodó da família e por isso pai e mãe não abriam mão do que julgavam necessário para a criança crescer num ambiente saudável, longe do que eles chamavam de Babel. Para isso, não permitiam-lhe que brincasse fora do alcance de suas vistas, para enfim, nada lhes fugir ao controle. Eles precisavam decidir como, com o que e com quem o filho podia brincar sem comprometer seu futuro. Daí, ele brincar com a lama? Não, porque poderia adoecer. O filho do vizinho era polêmico; com a priminha pegava mal para o homenzinho que ele era. A única alternativa era a solidão do seu pátio, com a montoeira de brinquedos que os pais lhe compravam semanalmente.

Na pré-adolescência, o garoto, só brincava com os coleguinhas de quem eles gostassem. Justificados pela idéia de que sabiam exatamente o que era bom para ele, não economizavam nas proibições: Esse filme não; aquele sim. Essa música é de gente alienada, escolhe outra. Sabe, filho, você tem muito que nos agradecer. Com a sua idade, não sabe ainda escolher nada; não tem clareza do que quer, nem tampouco, certeza do que realmente gosta.

Ao chegar a sua adolescência, novas ordens, novas censuras, novos preceitos, do tipo: Não saia de casa hoje; aonde você pensa que vai? Não com essa roupa, mocinho. Aquela garota é muito serelepe, afaste-se dela. Eu não vou com a cara daquele seu amiguinho; pode saísse dele, ouviu? Você ainda não tem idade para isso. Onde está aprendendo esses absurdos?

Agora é a festa dos seus 18 anos. Muito bolo, muito refrigerante, muitas outras guloseimas e claro, um seleto grupo de pessoas, mais amigas de seus pais do que dele próprio.

Embalados pela emoção seus pais iniciaram o discurso:

_Parabéns, meu filho! Como você cresceu! Nós quase não percebemos o seu crescimento. Até parece que foi ontem que você nasceu, não é? Hoje nos deparamos com um homenzarrão em nossa casa e nos perguntamos, cadê a nossa criança? Parabéns pela sua maioridade!

O jovem, ainda abraçado a seus pais, os agradeceu dizendo:

_Obrigado, papai! Obrigado mamãe! Que bom que vocês perceberam. E agora? Será que posso ser eu?

José Maria de Carvalho
Enviado por José Maria de Carvalho em 14/04/2011
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