A D N *
Eu não sei dizer quanto tempo leva para que se instale uma mutação genética num ser humano. Num animal e numa planta onde há a mão do homem fazendo alterações no código genético através de introdução de uma ou mais seqüências de DNA provoca alterações que muito provavelmente não aconteceriam na natureza sozinhas. Estão aí o frango, a soja, o milho, as vacas e porcos e cabras e ovelhas para não me deixar mentir. No caso dos reinos vegetal e animal, a intenção é aumentar as suas produtividades e resistências a certos fenômenos tais como pragas de lavoura ou doenças. Também servem para que produzam mais alimentos e se reproduzam mais rapidamente.
Com o ser humano já há disponível a tecnologia das células tronco e numa perspectiva extrema, a clonagem. Aspectos religiosos tão somente tem segurado o seu avanço. Acredito que num futuro um pouco mais longínquo, se a população mantiver tendências de reduzir a sua reprodução, esse método irá substituir os partos para repor gente onde faltar. Se o sistema ainda for esse onde o dinheiro é que governa, podem esperar que serão pessoas também de alta produtividade, imunes a quase todas as doenças e, se conseguir, o homem vai clonar pessoas pacatas, sem intolerâncias, sem preconceitos. Gente que não reclame muito. As possibilidades serão tantas que dá até um nó aqui na cabeça. Enquanto não caem as barreiras morais (alguns chamam de éticas), vamos convivendo com alimentação feita com produtos industrializados em escala máxima e com plantas e animais geneticamente modificados. O resultado disso é que é o assunto aqui.
Desde o século passado, quando a população mundial deu saltos exponenciais, produzir alimentos em abundância e a custo baixo, criar animais em espaços menores mas em grandes quantidades e fazer com que tudo gere mais e mais lucros, ficou uma conta para alguém pagar pelas conseqüências. A genética humana vem se alterando ao longo de sua história no planeta. Os primeiros homens tinham apenas um tipo sanguíneo. Com a introdução de novas dietas, tornando-os menos carnívoros, apareceram outros tipos de sangue. A dentição que era composta de muitos mais dentes caninos já mudou um pouco. Isso tudo levou muitos séculos para se efetivar. Foi um processo mais ou menos natural. Aí não deu pra gente acompanhar como estamos sendo testemunhas históricas atualmente. Minha hipótese é a de que a geração que começou a nascer no ínício do século passado e as que se seguem, até mais ou menos daqui a uns vinte, trinta anos vai ser meio cobaia dessa revolução rápida no modo de manipular a natureza. Estamos convivendo e sendo vítimas de doenças novas que são atribuídas meio sem explicações consistentes, à “vida moderna”. Mas para mim podem ser conseqüências dessas mutações. As gerações futuras provavelmente irão nascer mais desvinculadas do estado de natureza. Serão uma espécie muito mais resultante de combinações de química e engenharia biológica. Mais duradouras e mais resistentes, pode ser.
Estou esses dias com meu pai e um irmão doentes com uma certa gravidade e tenho feito um périplo por hospitais quase o dia inteiro. O que tenho observado e conversado com pessoas acerca de doenças que nunca antes eu havia ouvido falar não é pouca coisa. Enquanto observo as novas especialidades médicas que vão surgindo em função dessas demandas novas, vou tentando reduzir meu espanto. Meu pai, a não ser a idade, possui apenas um dos 8 ou 9 fatores de risco que os médicos explicaram a respeito de sua aterosclerose, aneurisma de veias e outras complicações. Tudo bem, podem dizer que é da idade ou algum “defeito de fábrica”. Meu irmão (coincidência ou não) foi o que mais se alimentou de comida industrializada desde sua adolescência entre todos os demais. Padece de um hipernefroma, doença da qual sequer havia ouvido falar em toda a minha vida leiga. Não estou nem falando só deles para justificar tudo o que escrevi até aqui. É do que tenho observado também durante o tempo que passo nos hospitais e clínicas diariamente. Estou aprendendo que o glossário de termos médicos e o CID (Código Internacional de Doenças) também estão crescendo seu volume com novas informações.
PS: * O título ADN refere-se num trocadilho proposital, tanto ao Acido Desoxirribonucleico (DNA), como ao assunto a que me propus, significando Antes e Depois do Natural.