O PECADO DE MESSI

Messi é comparado a Maradona. Messi é comparado a Pelé. Nunca fui o maior dos entusiastas de comparações. Messi deveria ser comparado apenas a Messi. O Messi do Barcelona é um gênio, um acrobata, um milagre do esporte. O Messi da seleção argentina é apenas um craque, um grande jogador, um ser humano.

Confesso que a minha pouca idade não me concedeu ver todos os grandes mitos do planeta bola. Vi e maravilhei-me com Maradona, Romário, Zidane, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Van Basten e Roberto Baggio. Com exceção de Basten e Baggio todos levantaram a taça de campeão do mundo com suas seleções. O tribunal do futebol às vezes é severo com quem não é campeão da Copa do Mundo.

Messi disputou duas copas com a seleção argentina e não conseguiu transpor a barreira das quartas-de-final. Não fez nenhuma atuação de gala em mundiais. Mas não ouso retirar-lhe o título de gênio do futebol por isso. Suas partidas memoráveis pelo Barcelona o credenciam como um dos maiores jogadores da história, um dos mais espetaculares meias.

Sou devoto de Messi. Com ele em campo o Barça é imbatível. Pode até perder, mas é sempre zebra. Pode até não ser o campeão, mas é o mais temido. Os pés de Messi parecem estar sempre descalços. São como pés de moleque brasileiro jogando pelada. Messi não tem qualquer respeito com o esquema tático adversário. Despreza a lógica. Não dá a mínima para o comum. Gosta de fazer o inesperado. Gosta de produzir a poesia no gramado.

Messi não se contenta em apenas driblar ou passar a bola de forma precisa. Ele é fanático pelo gol. Sente prazer diabólico em imputar terror aos goleiros adversários. Se não deixam Messi entrar na área enfileirando zagueiros, pior para o goleiro: da entrada da grande área, ele coloca no ângulo com sua majestosa canhotinha. Se não lhe permitem chutar da meia lua, pior para o goleiro de novo: ele invade as fileiras inimigas como um Alexandre, derrubando um a um, até estar frente a frente com o último guardião, que desarmado, sucumbe também e não tem ação maior do que olhar a bola morrer mansa, domesticada no fundo das redes.

Messi é um ilusionista da bola. A todos dribla, a todos transpassa, a todos suplanta. Primeira linha de quatro, segunda linha de quatro, barreira, marcação homem a homem, marcação por zona, violência, mandinga, nada funciona contra o camisa 10. Não há como pará-lo quando está com a camisa do Barcelona. Com esse uniforme ele se faz poderoso e impiedoso. É um Aquiles armado até o calcanhar.

Se a vida seguir seu rumo coerente não há nada que irá pasar Messi em sua escalada rumo ao gol. Nem a força bruta nem os serviços de inteligência de algum arranjo tático. Contra Messi triunfará apenas a ação do tempo, que imperdoável pecado, começará a ruir suas pernas até o dia em que ele nada mais será do que um homem que joga bola.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 14/04/2011
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2907809