No limite entre estar perto demais e o perigosa verdade da idealização

O filósofo, professor da Usp, Renato Gianinni Ribeiro, lançou o tema falando no Café Filosófico da TV Cultura sobre o filme americano “Closer: Perto Demais”: quando mais se aproxima da intimidade, quanto mais se tem conhecimento do outro, mais se quebra o desejo, posto que mais é frustrada a idealização.

Mas gostar é desejar? E desejar intensamente e cada vez mais? Ou gostar é meio que o oposto disso, a acomodação do espírito em encontrar o que supostamente é a verdade do outro e aceitá-la e acomodá-la também no seu espírito?

Analisemos a primeira pergunta alternativa: desejar intensamente e cada vez mais. Ora, logicamente, sabemos ser impossível, até pela finitude da vida terrena e supondo os desejos mudarem-se ou até mesmo não haver desejo nesse nosso sentido no “outro plano” (supondo-se haver até mesmo outro plano) que algo seja contínuo e crescente. Portanto, o máximo que podemos esperar, é que o desejo aumente soberbamente, mas estagne-se em algum momento. E neste momento o que o ocorrerá? Por esta assertiva o gostar terá um fim, pois findou-se o sentido de gostar, já que não há mais desejo. Podemos fazer uma analogia: gostar, nesta perspectiva, seria o “efeito” causado pela “droga” do desejo. São necessárias, a cada vez, doses maiores para se obter o resultado esperado. Entretanto, notamos na nossa experiência sensível, que por vezes a convivência torna-nos cada vez mais próximos do objeto do nosso interesse particular, muito embora nos torne cada vez mais decepcionados com a nossa idealização.

Somos levados a crer que a segunda hipótese é a mais plausível. No entanto há o obstáculo da idealização à qual nos deteremos agora e sobre a qual teceremos algumas considerações.

Qual o motivo de idealizarmos? Num primeiro momento talvez seja porque também nos idealizamos e estamos acostumados a projetar certas experiências pessoais nas experiências dos outros, até porque não temos como saber como o outro pensa. De certa forma, decepcionar-se como o outro é decepcionar-se consigo mesmo, pois percebemos na pretensa fraqueza do outro a nossa própria fraqueza; na hipocrisia do outro, nossa própria hipocrisia; na indiferença do outro, nossa própria indiferença.

Neste momento é necessário que se retome a segunda hipótese e a reescrevamos com outras palavras. Era ela a seguinte: “gostar é meio que o oposto disso, a acomodação do espírito em encontrar o que supostamente é a verdade do outro e aceitá-la e acomodá-la também no seu espírito?” pelo parágrafo anterior notamos que a verdade do outro, nada mais é que a nossa própria verdade, pois é a verdade do ser humano.

Para se relacionar o ser humano deve se aceitar e aceitar que é um ser por vezes decepcionante e aceitar se decepcionar. Aceitar que quando se quer alguém não há como escolher as partes que mais se gosta e as partes que menos se gosta. Compra-se o pacote fechado. Toma-se a pessoa por inteiro. Mas isso implica ser pessimista e niilista. E isso é doloroso. E a dor, apesar de ser inerente ao crescimento, é ruim.

Laanardi
Enviado por Laanardi em 13/04/2011
Código do texto: T2906755
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