VELHOS. PARA QUE TE QUERO?
Não é uma apelação e tão pouco uma forma ofensiva de iniciar esta crônica.
Simplesmente é a forma como estão sendo tratadas as pessoas que na cronologia da vida, seguem o seu ritmo e rumo natural, que a biologia dita.
São pessoas queridas, honesta, amadas, simples, educadas e que no decorrer de muitos anos, trabalharam em diversos segmentos e contribuíram das mais variadas formas para que o Brasil atingisse o “status-quo” que hoje se encontra no cenário internacional e nacional, em especial.
O que seria do Brasil se estas pessoas que hoje com seus cabelos brancos, arcadas pelo peso da idade ou até por uma deficiência física, adquirida nos anos de labor?
Brasileiras e brasileiros, estrangeiras e estrangeiros fizeram deste Brasil uma nação respeitável e que começa a solidificar seus conceitos éticos e sociais.
O que hoje desfrutamos em termos de avanços tecnológicos, de industrialização, de educação, de saúde, de agricultura e pecuária, de mecânica, de ensino em todos os níveis, de segurança, de transporte, de telecomunicações, de turismo, de literatura, de medicina, de engenharia enfim de todos os segmentos produtivos tiveram no passado e ainda os tem nos dias atuais, a participação destas pessoas que hoje apresentam seus cabelos brancos ou não, mas que no caminhar do tempo, atingiram a idade do reconhecimento e do respeito.
Pessoas que se debruçaram horas e horas nos seus afazeres diários, muitas vezes sacrificando seus familiares, para que um dia todos nós pudéssemos desfrutar dos benefícios por eles gerados. Anonimamente estes construtores do Brasil foram empilhando tijolo por tijolo, para a construção de uma sociedade que deveria até ser justa e perfeita em todos os lados.
Mas o que o Brasil está assistindo é um verdadeiro massacre psicológico e moral para com as pessoas que no passar do tempo atingiram o momento de parar de produzir por motivos vários, dentre eles a sua nem sempre justa aposentadoria. Outras por razões de saúde e outras ainda por terem atingido uma idade que não compete com os mais novos, mas que no seu arcabouço profissional são verdadeiras enciclopédias de conhecimentos técnicos e teóricos.
O Brasil assiste de forma passiva à tortura psicológica, a falta de respeito e consideração para quem já constituiu uma família ou não, quando estas pessoas buscam um espaço que lhes é garantido pela Constituição e pelos Direitos Humanos. São submetidas a vexames, a constrangimentos e humilhações. Seus direitos não são respeitados e tão pouco considerados.
Mas são seres humanos que ainda contribuem com seus impostos, taxas e tributos ao consumirem bens de serviços, medicamentos, roupas, utensílios domésticos, livros, roupas, perfumes, alimentos, turismo e outros tantos para que o se façam às devidas aplicações em bens sociais.
Mas não é isso que está acontecendo.
Se os impostos, taxas e tributos não são aplicados corretamente em prol de uma sociedade da qual as pessoas idosas pertencem é outra coisa. Mas o que não se pode admitir é que esta mesma sociedade que até então se beneficiou do passado produtivo nos mais variados setores, hoje as repudie e as ignore. Pior ainda que as trate com total falta de educação e consideração. Quando não as humilha de forma cruel e brutal.
Passei uma semana em São Paulo, junto com o Marcelo, Camila e a Bárbara e ao assistir um documentário a respeito da falta de respeito para com a Terceira Idade, fiquei pasmo. Pasmo. Sim, pasmo total.
O vídeo mostra várias cenas de falta de respeito para com as pessoas mais velhas. Uma senhora idosa, viaja em um ônibus coletivo, de pé. Totalmente lotado. Em um espaço reservado por Lei os assentos para idosos, deficientes e gestantes estava ocupado por uma mulher com idade presumível de uns 20 anos. Uma passageira incomodada com a situação em que se encontrava a senhora idosa, educadamente pediu para que a “folgada” passageira cedesse o lugar para a senhora idosa. Recusa total. Pelo áudio pode-se escutar o seguinte “Lugar de velho é em casa”. Houve um bate-boca, uma troca de insultos e por fim a agressão. Mas ou menos do tipo: Não vai por bem, vai por mal. E a passageira folgada levou uns tapas e uns puxões de cabelo e cedeu o lugar a senhora idosa. Sob vaias dos demais passageiros.
Neste mesmo noticiário outra cena constrangedora. Um casal de idosos em pé, no metrô lotado. No lugar reservado às pessoas gestantes, com dificuldade de locomoção e idosos, dois marmanjos escutando musica pelo fone de ouvido e fingindo que estavam dormindo. Um passageiro pergunta se poderia ceder o lugar para o senhor idoso, que estava se dirigindo ao Hospital de Clínicas, para trocar uma sonda que estava colocada no abdômen. O que o educado rapaz falou? Oh! Meu! Se liga. Tô no maió descanso da vida. O que fazer ante uma situação desta? Nada. Simplesmente lastimar que estamos andando na contra-mão da história Em países desenvolvidos e com economia estável, (e o Brasil se diz colocado em oitavo em termos de economia), o respeito aos deficientes, ás gestantes, aos idosos, aos com dificuldades e limitações de locomoção, é alvo de muita atenção e cuidado. Mas nós brasileiros ainda não aprendemos a nos respeitar e respeitar aos nossos semelhantes e em especial e exemplificado nos dois casos antes citados.
A Lei existe. A Lei tem que ser cumprida. Esta escrito na Constituição e nos Direitos Humanos, mas só escrito. Fazer cumprir a Lei é outra história. Mas tem um pequeno detalhe. Se um idoso deixar de declarar seu Imposto de Renda, a Lei virá ao seu encalce.
E por fim ainda no mesmo canal de televisão, que por sinal foi muito feliz na reportagem. Um caso de uso de vagas de estacionamento para idosos e deficientes físicos. Dois homens, por sinal muito fortes. Simplesmente estacionaram o carro em uma vaga para idosos. Indagados a respeito do estacionamento irregular, responderam que não era para encher o...
E assim foram inúmeras situações de desrespeito à Lei que ampara os idosos.
E resta então a pergunta. O que fazer?
Acredito que a exemplo da passeata gay na Avenida Paulista, na Avenida Atlântica em Santos ou em outro lugar, os idosos deveriam fazer uma passeata bem humorada, denunciando este tipo de situação. Cobrando daquele vereador que veio todo humilde pedir o voto da família. Cobrar o cabo eleitoral que veio pedir votos e uma ajuda de custo para a campanha do vereador e do deputado. Cobrar o prefeito da sua cidade uma postura mais enérgica, inclusive o presidente da Câmara de Vereadores. Exigir do Ministério Publico, na pessoa do Promotor Público, da sua Comarca que ele faça cumprir o que está escrito na Lei, pois ele, Promotor é o nosso Guarda da Lei.
Só nos resta lamentar que exemplos iguais aos citados na reportagem do canal de televisão, seja uma constante diária no Brasil, detentor da oitava ou sétima economia do mundo e último em respeito aos Direitos dos Idosos, Gestantes e Pessoas com Limitações Físicas.
Enquanto isso viajamos para China, para a Grécia, pois a sua aposentadoria está assegurada e nunca irá usar um ônibus lotado, um metrô fedido e velho.
E então voltamos à pergunta: Velhos para que te quero?
E respondo. Para respeitá-los. Para me orgulhar do que fizeram por este Brasil. Para lhes agradecer do suor e das lágrimas derramadas, na luta diária para constituir e sustentar uma família. Para lhe agradecer por existirem. Para pedir desculpas pelos que hoje são jovens e mal educados, mas que um dia eles chegarão lá, com seus cabelos brancos.
Para me indignar com este estado de coisas, onde o mais forte suplanta o mais fraco fisicamente. Onde o mais jovens não respeitam os mais velhos, em função da sua falta de educação, que por certo não veio do berço familiar onde foi criado.
E respondo. Se não fosse estas pessoas queridas que hoje estão com idade avançada, que um dia lutaram uma guerra que não era sua, nos campos gelados da Itália, que lutaram uma guerra perdida, na produção de borracha na Amazônia, que um dia morreram na desastrada estrada de ferro Madeira- Mamoré, que um dia choraram em pleno Maracanã a derrota para os Uruguaios, mas choraram com orgulho, pois muitos dos que ali estavam construíram o maior estádio do mundo, à época.
Se não fosse por estas pessoas que iniciaram a indústria automobilística, que hoje fabrica ônibus para o transporte coletivo municipal, para que os marmanjos e as pessoas mal-educadas possam se locomover. Que de forma indireta contribuíram com seus serviços de mão de obra, de cunho intelectual, de estudos de plantas e fórmulas, o Brasil não seria o que hoje é. Não o Brasil demagógico e corrupto. Mas sim o Brasil que deve e deverá de se orgulhar das BRASILEIRAS E BRASILEIROS IDOSOS.
A eles os nossos respeitos e considerações.Muito obrigado por existirem.