Tentei

Hoje tentei chorar, ainda que muito quisesse, falhei em conseguir. O que me leva a crer, que do mesmo que são limitadas nossas respirações, são também as lágrimas. Digo isto, pois encaro o pranto como qualquer outra fonte d´gua, seja um poço ou lençol que corre as profundezas.

É engraçado, pois quando era um pequeno eu, lívido e serelepe, as lágrimas sempre vieram com facilidade; tal qual um cozinheiro frita um ovo, depunha eu copioso choro. Já hoje, parece-me algo hercúleo, verter mero indício de pranto. Para que se note o quanto é difícil, é mister ilustrar a situação sob a qual tentei, entregar-me ao alívio do choro. Mal ouso contar quantas garrafas entornei, bem como o inusitado mal que pessoas, a quem entregaria meu derradeiro bater de coração, fizeram-me. No momento, um frasco de vinho preenche minha mão, e metade de seu conteúdo meu estômago, o sono é-me estranho, bem como o descanso ou a vontade de sorrir.

Na frente dum espelho, encaro minha face, nem mesmo a lastimo que fito, faz com que o choro de que necessito evada-se de meus olhos e reguem meu rosto com o alívio de que sou merecedor. Aproximo-me tanto quanto posso de minha imagem, sem que a desfoque, como tanto em minha vida, perco-me em olhos meus. Sem formar palavras, digo à mim, que é estupidez buscar o que busco, crer-me merecedor daquilo que não sou; não compensa o sofrer, dirigido àqueles que por você não o fariam. A moça que você amava, o amigo em que confiava, tudo que escutava. Ainda assim, tento me entregar, pois por mais que não seja recíproco, por eles almejo prantear. O que prova, que o conseguir, afasta-se incrivelmente do querer.

Penso se sofrem outros, metade do que sofro, do que me fizeram sofrer, não creio, quem lança palavras não necessariamente as diz, ou sente. Então tento novamente, buscar numa fonte seca, uma lágrima que venha, que seja ela símbolo do que por outros sinto, pela amizade partida, pelo coração que sangra, pela indignação com a falta de sentir, comparado com o que sinto. Infelizmente nada vem, passo desta arte, a afirmar, que com o que neste dia aconteceu, o que sobrara de sentimento em mim, morreu.

Pietro Tyszka
Enviado por Pietro Tyszka em 13/04/2011
Código do texto: T2906357
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