O Louco
Desde criança sempre fora de poucas palavras, nem os da família conheciam os ecos de sua voz, se bem que para falar a verdade ele nem falava, não que fosse mudo, tinha todos os aparelhos vocais funcionando perfeitamente. Ninguém entendia seu silêncio.
Enquanto os irmãos e primos corriam pelo terreiro, pisando nas plantas da avó que os expulsava a cabo de vassoura, ele ficava recolhido num canto, com ar de doido; era assim que os demais garotos o definiam, imitando os adultos. Ele nem se incomodava, como que se fazendo de desentendido, ou aceitando a sentença, a sina de doido.
Sua infância se resumiu a isto: o silêncio. O que se sabia dele era o que os outros diziam. Na adolescência em fim começou a afirmar sua existência. Todos puderam conhecer a força de sua voz:
__ Eu sou Deus! Dizia mirando o horizonte.
__ O mundo vai se acabar!
__ Eu estou morrendo!
__ O meu coração parou de bater!
Dizia, desordenadamente, assustando a todos. De inicio pensava-se que fosse uma brincadeira. Mas começou a rolar pelo chão, a sair vagando pelas estradas, ameaçando se atirar na frente dos caminhões em alta velocidade.
Está doido, veio a confirmação.
Outros sugeriam que fosse trabalho de macumba. Levem para a casa de madame tal que ela cura tudo o que é ruim. Quando não dava certo sempre havia outra madame mais eficiente. Depois que se recorram a todos as madames, foi a vez das igrejas evangélicas, que desfaz todo trabalho feito, de macumba, ou qualquer outro, porque Deus move montanhas. Realiza o impossível. Não duvidemos!
No entanto, para que ele faça de nossa vida uma benção, é preciso que exercitemos nossa fé. Só cada um individualmente pode sentir a Deus. Se o temos verdadeiramente, é certo que nos livrará de toda a sanidade, mazelas, etc.
Enquanto não descobre Deus, O Louco que rola pelo chão, que vaga pela estrada, agora também passou a morder a si mesmo.
Os urubus que o rondam desde a infância, estão cada vez mais próximos. Ele joga pedras ao alto para tangê-los. Em vão.