O desarmamento, as drogas e o Sarney
O congresso, capitaneado pelo ilustríssimo senador José Sarney, prepara um novo plebiscito sobre o desarmamento, a ser realizado em outubro desse ano. Segundo as declarações dos nossos políticos, sempre sintonizados com a vontade popular e clamor das multidões, a solução para tragédias como a de Realengo é a proibição do comércio de armas no Brasil.
Josias de Souza, em seu blog do UOL, comenta essa propositura do Senado ("Senado realiza um 'tour-de-farsa' pelo desarmamento") e propõe sua substituição por um projeto de lei "revolucionário":
Artigo 1º: Fica proibida a existência de bandidos e/ou malucos.
Artigo 2º: Revogam-se as disposições em contrário.
Um projeto extremamente simples, fácil de ser votado, não haverá necessidade de gastos exorbitantes, nem de horários gratuitos na televisão e que terá a mesma eficiência e eficácia de uma possível lei proibindo o comércio legal de armas no Brasil.
Fazer uma lei proibindo certas atividades é a solução? Temos um exemplo histórico nos EUA. A criação da Lei Seca, não impediu os estadunidenses de beberem. Em contrapartida, aumentou o número de crimes e corrupção envolvendo políticos e policiais. A situação ficou tão crítica que tiveram que revogar essa lei.
Para os ingênuos e para aqueles que nunca tiveram interesse em ter uma arma de fogo (sou um deles), é importante saber que hoje, no Brasil, é extremamente difícil comprar uma arma e mais ainda ter o porte dessa arma. Isso legalmente.
O que precisamos e o Congresso e outras autoridades não tem interesse, é de uma política realista de combate e fiscalização, não somente de armas, como também de drogas. As duas coisas estão intimamente ligadas. E já existem leis proibindo o comércio de drogas, seja maconha, seja crack. E duvido que tenha alguém que esteja lendo este texto que não conheça uma pessoa envolvida com drogas.
O facínora de Realengo não comprou as armas que utilizou no comércio legal. Muitos assassinatos que ocorrem diariamente são causados por armas de origem clandestina, a maioria de contrabando. O governo em algum momento declarou que vai aumentar a fiscalização em nossas fronteiras para impedir a entrada dessas armas?
Acompanhando as notícias nos jornais e na internet, facilmente se encontra uma matéria sobre algum crime envolvendo drogas. Filhos são estuprados por pais drogados, com a conivência de mães também drogadas!
O assassino de duas irmãs adolescentes no interior de São Paulo, foragido da prisão, utilizou uma arma que ele não comprou legalmente. Ele estava foragido há dois anos e a polícia esperou por um novo crime para prendê-lo!
Vamos fazer passeatas pela paz. Vamos vestir branco pela paz. Vamos abraçar os locais onde ocorreram tragédias pela paz. Mas vamos também nos indignar e exigir ações de nossas autoridades, para que as leis sejam realmente cumpridas, os bandidos realmente sejam presos e os nossos policiais reamente atuem em defesa de nós cidadãos.
Em momentos de tragédia e de dor coletiva, é importante e humano nos emocionarmos, nos revoltarmos, mas temos que ter senso de não nos deixar levar pelos políticos e pela mídia oportunista.