HOJE EU CHOREI PELAS BALAS DE CHOCOLATE
Parece meio maluco da minha parte, mas hoje eu chorei porque acabaram as balas de chocolate. Eu sempre guardo, na primeira gaveta todos os tipos de doces. E justo hoje, acabaram todos. E isso me deu uma tristeza sem fim. Não pelas balas de chocolate, que eu posso comprar mais a qualquer momento. Mas porque eu precisei delas pra ter pra onde escapar. Eu tenho uma compulsão por doces que se agrava muito quando eu quero fugir de alguma coisa. Mas hoje eu não tinha doces. E a minha única saída foi encarar os fatos.
Então eu chorei. Chorei todas as minhas dores. Chorei tudo o que estava guardado aqui dentro, sufocado pelas balas de chocolate. Chorei de saudade, chorei de tristeza, chorei de raiva, chorei de dor, chorei de alívio. Simplesmente chorei tudo o que tinha dentro de mim. E quando eu percebi que estava chorando por causa da minha gaveta vazia, eu chorei mais.
Chorei pelas criancinhas que passam fome, chorei pelo mocinho da novela que sofre tanto, chorei pelos cachorrinhos sem dono, chorei porque eu vi uma moça machucar o dedo hoje, chorei porque choveu e aquela senhora não tinha um guarda-chuva. Chorei pelos animais sem comida, pelas crianças sem lar, pelas pessoas sem amor.
Chorei porque eu nunca quero fugir, mas nunca consigo ficar. Porque dói ficar e ver tudo acabar, assim como dói ter que ir embora e deixar tudo pra trás. Chorei porque eu tenho medo e fujo mesmo. E quero balas de chocolate. E hoje, que elas acabaram, eu senti como se minhas saídas tivessem se esgotado também. Não tenho mais pra onde correr, mas também não tenho coragem de ficar. E eu não quero mais fugir. Mas depois de tanto tempo fugindo, não sei mais ficar e enfrentar meus medos.
Então queria te pedir. Não me de motivos pra querer fugir. Faça com que eu queira ficar e não sinta medo disso. Limpe minha gaveta e tire todas as balas de chocolate. Não deixe que eu precise delas novamente. Seja o motivo pelo qual eu quero ficar, e não o motivo do meu desespero em querer ir embora de novo. Faça com que a vida seja doce, sem que eu precise apelar para a minha gaveta de balas. E, principalmente, pare de fazer besteiras que me dão vontade de ir embora.