VOZES NO ABISMO DA CAMA
Quando penso em deixar o cansaço do dia que entorna, deito na cama, apago as luzes e ouço vozes de um dia resumido, fervoroso e árido.
Não descanso.
Penso nas pessoas que não beijei, nos carinhos que não recebi.
Penso nas desculpas que não aceitei, nas palavras erradas nas horas certas, penso naquela música que me fez dançar. Nos olhos que me fizeram sonhar e agora imagino não só olhos, imagino a boca, o cabelo, o peito, o abdomem, as pernas e... deixa pra lá. A distância e a incapacidade de não ter, me enraivece e tudo se apaga.
Só quero dormir, abraçado por Morfeu e conduzido ao seu mundo. Mas há milhões de pessoas ao meu lado no quarto dando-me conselhos nessa hora madrugal imprópria.
Viro para a direita e ouço os conselhos de minha mãe para aquele problema que me afligiu tanto durante o dia, e de uma coisa é certeza: sei que se estivesse comigo, saberia o que dizer sem julgar ou criticar. Ela que tinha o dom de ver o melhor de cada um... E nesse personagem maternal mental, fico imaginando o que ela me diria, como seria o tom de sua voz para aconselhar-me do capítulo mal escrito em minha vida. Lembranças...
Viro para a esquerda e vejo contas, vejo dívidas, vejo pessoas "puxando o meu tapete". Cobranças do chefe, extrato negativo do banco, final de mês apertado, solidão, coração pedindo companhia, crime e castigo nos noticiários, vontade de ir ao cinema...
Ah!! Pra tudo tem jeito, e tudo dá certo no final. Quer saber?
Viro pra direita, e ouço o boa noite da minha mãe:
- Bons sonhos, amanhã é outro dia. Deus te abençõe.
23/04/2010 - 9H45