O Flamenguista José Lins do Rego
Ontem, dia 11 de abril de 2011, a nossa Academia Brasileira de Letras comemorou os 110 anos de nascimento de JOSÉ LINS DO REGO.
A comemoração acabou se tornando uma festa do Flamengo, uma vez que o acadêmico paraibano, magistral escritor regionalista, cujo primeiro livro foi “Menino de Engenho” e sua obra prima “Fogo Morto”, era um torcedor fanático do Flamengo, tendo escrito também um livro de crônicas “Flamengo é puro amor”.
Gosto de registrar as coisas boas do Brasil. Os meus amigos e amigas não desconhecem que amo o Brasil, sem desmerecer as outras gentes, as outras nações.
Já andei falando que meu coração é misto no tocante ao futebol, um coração Fla-Flu, em razão de minha história peculiar muito próxima aos dois clubes do Rio.
Mas vejo que não estou sozinho nesta questão. Descobri que meu amigo, prematuramente falecido, o grande Arthur da Távola, tricolor, tinha um amor secreto pelo Flamengo. E o excepcional Nelson Rodrigues , também Fluminense doente, confessava sua admiração pelo Flamengo. São dele essas palavras que parecem expelir fogo: “ O Flamengo tornou-se uma força da natureza. O Flamengo venta, chove, troveja, relampeja."
E não satisfeito, Nelson confessa: “ Cada brasileiro é um pouco rubro-negro. E a alegria rubro-negra não se parece com nenhuma outra, não sei se é mais funda ou mais dilacerada ou mais santa, só sei que é diferente".
E esta confissão me parece correta, pois já li que existem sessenta agremiações com o nome Flamengo em todo o Brasil. No Estado de Minas Gerais, para mexer com meus amigos mineiros, existem 18 times de futebol com o nome Flamengo, em homenagem ao time carioca.
Já na comemoração dos 100 anos do Flamengo, Arthur da Távola, no Senado Federal, evocava José Lins do Rego, citando este pensamento dele:
"Há no Flamengo esta predestinação para ser, em certos momentos, uma válvula de escape para as nossas tristezas. Quando nos apertam as dificuldades, lá vem o Flamengo e agita nas massas sofridas um pedaço de ânimo que tem a força de um remédio heróico. Ele não nos enche a barriga, mas nos inunda a alma de um vigor prodígio".
Neste registro sentimental, termino com algumas frases do Távola, em uma de suas crônicas, exaltando o Flamengo: “ Ser Flamengo é deixar a tristeza para depois da batalha e nela entrar por inteiro, alma de herói, cabeça de gênio militar e coração incendiado de guerreiro. É pronunciar com emoção as palavras flama, gana, garra, sou mais eu, ardor, vou, vida, sangue, seiva, agora, encarar, no peito, fé, vontade. Insolação.
Ser Flamengo é morder com vigor o pão da melhor paixão; é respirar fundo e não temer; é ter coração em compasso de multidão.
Ser Flamengo é ousar, é contrariar norma, é enfrentar todas as formas de poder com arte, criatividade e malemolência. É saber o momento da contramão, de pular o muro, de driblar o otário e de ser forte por ficar do lado do mais fraco. É poder tanto quanto querer. É querer tanto como saber; é enfrentar trovões ou hinos de amor com o olhar firme da convicção.
Ser Flamengo é enganar o guarda, é roubar o beijo. É bailar sempre para distrair o poder e dobrar a injustiça. É ir em frente onde os outros param, é derrubar barreiras onde os prudentes medram, é jamais se arrepender, exceto do que não faz. É comungar a humildade com o rei interno de cada um.”
Nunca vi um tricolor tão flamenguista!
Com alegria e pedindo desculpas aos outros torcedores, bem ao estilo humilde do grande povo japonês, não posso deixar de repetir as santas palavras do Nelson Rodrigues:
“O Flamengo venta, chove, troveja, relampeja”