A TORTA DE DAMASCO

Coisa que mais gosto é ir ao shopping numa tarde qualquer me sentar num café e me lambuzar com uma fatia de torta ou outro doce qualquer, água mineral com gás e um carioquinha.

Numa tarde de final de fevereiro, pedi uma fatia de torta de damasco que estava me esperando, linda, iluminada e recheada, na vitrine da Bella Gula. A fatia custava sete e noventa, mais o café, foram doze reais.

Cheia de satisfação abocanhei a primeira garfada. Fechei bem os olhos para sentir melhor o sabor do doce. Abri os olhos para uma nova sequência de garfadas, quando começo a pensar na careza daquele meu prazerzinho. Com quinze reais faço uma torta de damasco na minha cozinha, o que significa que estou comendo uma ínfima fatia pelo mesmo preço com que poderia estar comendo meio bolo, no mínimo. Mas aí tem o trabalho de fazer. Tem que ir ao super, comprar os ingredientes, cozinhar os cremes, fazer o bolo, montar a torta, deixar esfriar, e só depois comer. E o pior é a pia cheia de louça para lavar, eu suando na boca do fogão, açúcar nos cabelos, meleca nas mãos.

Volto para a fatia, já na metade. O que estou pagando afinal? Nesta fatia deve estar ‘recheado’ o valor dos ingredientes de toda a torta, parte do salário do funcionário que a confeitou, a energia gasta, o aluguel do bistrô, os impostos, o percentual do lucro do proprietário da franquia e sem dúvidas, o lucro daquele que menos se esforçou na produção: o dono da rede confeiteira.

Bebi o último gole do café. Dei a última garfada no bolo, já meio enjoada daquele prazer. E nem considerei, na análise econômica, o valor da água com gás.