O Ford Bigode e Eu
O Ford Bigode e Eu
Elsa B. Pithan
Fiz 89 anos em princípios de março. Estou me sentindo como um Ford Bigode de colecionador. Bem cuidadinho, pintadinho, brilhoso, espanadinho, sem pó nenhum. Todo o mundo olha e fica espantado com a conservação. Me felicitam e suspirando me dizem:
- Quero chegar aos seus 89, também com a jovialidade da senhora.
Mas como o Ford Bigode do colecionador, eu só saio com tempo bom, com céu de brigadeiro, nem pensar em dia chuvoso ou com sol de rachar ou com frio de renguear cusco. Mas num dia maravilhoso como o de hoje vou para a Beira-mar sentar num banco e olhar os Ratones descansando eternamente no mar. Não vou onde tem ar condicionado. A fuselagem emperra. Em lomba nem pensar. Aí me sinto mesmo um Ford Bigode. Lomba nós não subimos e também temos limite de peso. O molejo reclama. Andar ligeiro nem pensar. Não sou eu nem o Ford Bigode que perdemos a potência. Nossa potência continua a mesma de sempre. Foram os outros que aumentaram a potência deles. Nós ficamos na nossa.
Só vou a eventos a céu aberto como o Ford Bigode. Já viram algum num estacionamento na Zona Azul? Eu não. Também eu nunca vou lá. Vou às vezes a exposições. Numa delas vi um Ford Bigode um pouco mais velho que eu. Me deu uma inveja!...
De vez em quando tomo um ‘alquinho’ para desenferrujar o motor. E noto que faz bem mesmo. Cuido muito do que como. Um combustível bom é muito importante para a manutenção das ‘peças’ e as do Ford Bigode, como as minhas, não existem mais para reposição. Já imaginaram!
É, o Ford Bigode e eu temos muito em comum mesmo.
*Escrevi este texto em 11/04/2011 inspirada por uma conversa com amigas quando eu fiz essas comparações.