sobrancelha acima de tudo
Sol. Calor fatigante no centro da cidade de Rio Verde. No calçadão, pessoas transitavam submersas às suas atividades cotidianas e ao aquecimento que não reverencia uma só nuvem.
As árvores (poucas árvores) pertencentes a arquitetura urbana parecem se recusar cumprir o seu papel e o escaldante calor fala através do piche que começa brotar na massa asfáltica.
Nesse cenário agonizante de transpiração comovente, cada gota de suor que revela sua presença e, juntamente com a latente taquicardia sentida por mim, nitidamente sentia a sensação de deserto em constante luta contra meu instinto de sobrevivência. Sede de sombra, sede de água fresca.
Ao chegar ao meu destino – cabine de venda de cartão para celular – em pleno sol das 14 horas, não foi apreciada minha abordagem:
- Moça, você tem cartão de área verde (taxa de estacionamento)?
- Não! – Ela foi enfática, pois não queria insistência do cliente, visto que ocupava-se ali, dentro da cabine, de uma importante missão de realce de sobrancelha. A moça usava a pinça com intrepidez, pois não podia esperar seu momento de intervalo. Beleza acima de tudo, mesmo se for em horário de expediente.
O instante de incômodo àquela jovem poderia ser mensurado em fração de segundos, porém a irritação dela era notória. Sua sobrancelha fora levantada, ao mesmo tempo que arregalava os olhos e travava os lábios. Se ela estava exausta por me atender ou por segurar a água salgada, cheia de ureia, que se acomodara expressivamente em sua testa, nunca saberei.
Outras sobrancelhas surgiram e desapareceram naquela fatigante temperatura do Saara e naquela hierarquia de prioridade comercial. Sobrancelha acima de tudo.