Cai a noite outra vez

Ele desmontava o tempo no pensamento dela, o rio navega para o mar silencioso vindo da foz lá longe, navega num destino pressuposto em tudo aquilo que já está traçado nas curvas e contra curvas da vida, da alma, do coração e do corpo, porque é apanágio de um rio navegar em direcção ao mar... E a vida navega em direcção ao mar se dela fizeres um rio.

Lá no mar, as águas revoltas abraçam-se num caloroso e ardente beijo e o que foi duro na viagem torna-se salobro. A vida endurece os desabrigados, os amantes e os que vivem no seu coração.

Não tenho preces de amor apesar de quase sempre escrever dele e sobre ele. Muitos devem perguntar porque o faço, muitos devem me questionar porque amo assim, a resposta de facto está dentro do dentro daquilo que forma o ser de cada um, e aquilo que nunca tivemos torna-se uma meta de vida, aquilo que nos é subtraído tem de se tornar soma, aprendemos a amar pela incondicionalidade das coisas, aprendemos a amar porque amar é amar. Sente-se e demonstra-se não se fala apenas, porque falar é fácil demais... Ama-se porque o amor é a maior força do universo, ele foi protelado por Buda, Cristo e tantos outros unificadores da paz humana.

Amar não é fácil, tem várias etapas, tem vários pontos de idas e vindas caídas e recaídas, existe o abandono pressuposto e a figura de amar.

Amar não é fácil enquanto não aprendemos a ser desapegados, ama-mos as pessoas por serem ou se fazerem felizes, nós somos uma mão que dirige e faz com que isso possa acontecer, amar é a incondicionalidade de nunca cobrar, ama-se e PRONTO!

Não tenho preces de amor, apesar de amar muito, não tenho poemas escritos nem rimas nem prosas, mas tenho o nome dela gritado, tenho os braços no ar, o corpo jogado em paranóia e o berro de saudades de ti!

Hoje" maratoneio" numa caminhada em direcção ao nada, violo os prazos que se marcam na areia húmida e o horizonte "escalabroso" , um sol mortal queimando o olhar esquivado das tuas lágrimas e evaporado do meu sentir. O brilho alaranjado do poente primaveril cai sobre as águas do oceano Atlântico e a voz pálida da tarde ressoa na areia fina sobre os meus pés nos teus.

E, lá nos entretantos fugidios de nós a copula regurgita um pôr-do-sol estonteante quase me lembrando das nossas tardes entre o céu e a terra lá de cima do décimo-quarto andar do pensamento. E lá na distancia da vastidão de ti, uma onda surge sobre os banhos e abraça-me as pernas como se nela estivesse um abraço quase teu.

Abaixo os olhos ao sentimento dos graníticos psicossomáticos da minha quinta-essência - ser poeta é a forma de ser mais profundo daquilo que sinto sentir.-

É onde te acho é onde te escrevo, é onde eu mais te sinto. -Odeio a tua ausência!-

A vida é uma luta de vontades, uma mescla sentida de tudo aquilo que se encanta no coração. E são tão poucas as vezes que podemos sentir essa batida. E são tão poucas as vezes que realmente sentimos esse amor ao longo da vida, tão poucas... Tão poucas!

Passo o dia entre a minha amargura solitária de te encontrar vazia na minha cama, passo o tempo entre o meu amor inventado, passo o tempo a te abraçar no vento, e passo o tempo a inventar abraços.

E ela disse:

Amorito, te amo e sempre te amarei...

E cai a noite, outra vez.

Paulo Martins

PauloMartins
Enviado por PauloMartins em 11/04/2011
Código do texto: T2903125
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