Ofícios

Hum, aqui está justamente a profissão que eu escolheria se me quisesse estar num ambiente fechado. Afinal, o resto insípido dos ofícios que já vi na cidade, não possui a sensibilidade de me fazer reviver o teto da igrejinha de minha cidade do interior ou a querer explorar meu dom da criatividade manual. Talvez os bancos da pracinha estivessem mais com expressão de abrigo se fossem feitos de madeira. O mesmo eu diria do piso de minha casa, claramente frio, pois quando entro cansado do trabalho não sinto o amor do ofício do artesão.

Noite dessas em casa de amigos, neste ofício de vendedor de livros, sem ambições de ser herói no trabalho, a não ser quando sozinho me vejo com a história comum de quem passa os dias em sinais fechados, um conhecido disse-me que não entendia por que alguém escolheria ser marceneiro. Naquele momento, um de meus propósitos de valores, ideais e comportamentos de ser artista trouxeram-me um princípio de desejo de ter esse ofício antigo.

Algumas pessoas contam relatos de lugares e registros de conversas com os fregueses, outros contam histórias de profissionais que, numa sala fechada, puderam romper com arte a condição de estar enraizado ao mesmo ambiente todo dia. Assiste-se aos dias passarem, assim iguais, rápidos, dados a poucas oportunidades de se fazer algo por prazer – A condição de solidão me vem desta cidade abandonada de antigos ofícios.

A mão dos artesãos cuida de realmente acender a criatividade num exercício que quase não vejo na cidade grande. Também este ofício deve ser necessário aos olhos do espírito. E digo que a beleza do trabalho conta da grandeza da alma. Quando, às nove da manhã, eu me meter no trânsito, ou em discurso de conversa para vender livros, talvez eu não entenda logo, mas se ninguém me comprar o Manual Prático das Profissões, paciência.