A tragédia de Realengo...
Bom senso
Os humanos vivem em grupos e criam regras que podem conduzir a uma civilização próspera ou não. A vida comunitária deve ser boa, embora o homem não o seja, isso é incoerente, mas real. Os antigos faziam sacrifícios aos Deuses, condenando à morte indefesas crianças, a Igreja matou muito em prol de um Jesus que não pregou isso, e sim o amor à vida. Para vivermos temos que acreditar no amanhã seguro, viver a “paz” de nossa comunidade, e não temer a morte sem explicação. Esse é o ponto: explicar o que não tem lógica civilizatória, o que não admitimos. Imagino a dor das Mães que doavam seus filhos aos Deuses, e como o mundo a consolava...
Vamos ao dia de hoje, ao fato da morte despejada em nossa cara sem explicação: um louco se matou e na carona da sua loucura levou inocentes estudantes de um bairro proletário na capital da cidade dita maravilhosa e calma... Alô, alô Realengo aquele abraço! Gritou a velha da foice acompanhada de um rapaz franzino e solitário, despejando seu ódio ao mundo. Triste. Mais que triste: ilógico! Como explicar a morte louca, sem amarras, infeliz no puro ato de simplesmente matar, matar para nada, por nada. O louco tem uma idéia e a executa, e nós aqui, do outro lado do muro que ele construiu ficamos à deriva... Por quê???? Os jornais estampam o rosto fino, quase normal, de um jovem pobre de tudo, um lixo que caiu na terra e contaminou a nossa vida, matando, só. O povo, revoltado, vai jogar pedras na casa do infeliz, tentar mostrar a sua revolta no material, no lógico e palpável, na parede que devia ter contido o doido, na sua prisão que não o aprisionou... A mídia tirando seus frutos da tragédia, a morte vende bem! E aquela que vem banhada em sangue puro, vende mais! Vamos viver essa dor com toda sua força para esquecermos e, o quanto antes, deixarmos de questionar o “porque” e voltarmos a viver acreditando na morte anunciada ou pelo menos possível. A vida e seus mistérios se confundem em um computador de um mero suburbano esquecido, desamparado, procurando uma saída nas “verdades” que a internet, esse poço sem fim do conhecimento, poderia trazer. Dê um computador para um louco e veja o que colherás.
A morte, ela de novo mostra sua cara indigna, podre, safada, cretina, vestida de maldades e na contramão da vida atropela quem passar na sua frente. Fomos criados para morrer com explicação, para não se morrer mais, para a ciência evoluir, trazendo novas drogas, novas curas, novos aviões, air-bags, em carros mais velozes... O maluco que escala uma montanha no frio limite e morre, tem explicação. O piloto de corrida se espatifa no muro, é a adrenalina, essa vontade de sentir o prazer divino de brincar com a morte. E a vida? Ela deve ser vivida? O herói existe? Os valores modernos e comportamentais aceitam que jovens se matem em esportes radicais, em experimentações de limite, de dor, em prol da vitória! Que lindo é morrer como um símbolo de sucesso e aventura. Essa morte provocada é aceita. E aquela que vem do nada, da escuridão de nossa incapacidade de ver o mundo como ele é? Você aceita?
Amigos, esse é o maior desafio da psiquiatria, detectar o desequilibrado a tempo, não deixá-lo entrar em uma escola, nem tão pouco virar um ditador, um Hitler, um Kadafi, que tanto mataram, mas com uma explicação...
Explicar a morte pela vida, não! Ela não se explica! Ela é um fato, devido a outro fato, que brotou do ventre de tua Mãe...
Simples.
Roberto Solano